O ano de 2025 tem sido marcado por perdas inenarráveis. Como o fotografo Sebastião Salgado e os gênios da música Brian Wilson e Sly Stone. No último sábado foi anunciado o falecimento do multi-instrumentista Hermeto Pascoal. Música tarimbado e que fazia música com o primeiro objeto que tinha em mãos. Seja uma colher ou o batente de uma janela. Uma musicalidade infinita, que não ficava restrito aos instrumentos. Seja de sopro, cordas, peles e teclas. Aos 89 anos se mantinha ativo, mesmo em condições frágeis de saúde. Conhecido como “O Bruxo”. Sua morte foi anunciada pelo filho Fábio Pascoal no show do musico Nivaldo Ornelas. Realizado no Teatro do Centro Cultural Unimed BH em Belo Horizonte (Minas Gerais) na noite do sábado.
Ele foi chamado para substitui-lo no Festival Acessa BH e tocando com a banda Nave Mãe, formada pelo próprio Hermeto. Fábio subiu ao palco e proclamou o poema: “Salve salve a toda gente, que vive e deixa viver, aqui vai nosso abraço, com o som e o saber”. A emoção foi a flor da pele, todos os presentes emocionados e chorosos. Ornelas disse que ele e os músicos ficaram sem reação e sem saber o que fazer. Completou: “O Som que Hermeto fazia não parecia com nada já criado. Era extremamente original. Parecia-se com Hermeto Pascoal”.
Essa foi sua marca registrada. Alagoano de nascença, ele foi influenciado pela nossa música popular brasileira e o jazz. Um autodidata desde pequeno, estudou até o terceiro ano do ensino fundamental. Nas suas palavras, quanto mais teoria o indivíduo tem, mais ele sabe e menos ele sente. Aprendeu a tocar de forma intuitiva. Fortalecendo suas origens em Olho d’Água, povoado próximo de Lagoa Grande, em Alagoas. Nascido albino com baixa visão. Isso lhe deu a sensibilidade necessária para ouvir os sons ao seu redor. Como os da natureza até os ruídos feitos pelo avó ferreiro. Com o piano houve uma conexão imediata. Hermeto, de acordo com Nivaldo, não era uma pianista de jazz.
Não como um jazzista por tradição. Ele ia além, trazendo a nossa sonoridade ao gênero. Em especial a região Nordeste. Como o samba, o frevo, o baião e o forró. Chegou a tocar e gravar com emblemático Miles Davis em 1971 no álbum “Live – Evil”. Gravou três composições suas (“Little Church”, “Selim” e “Nem Um Talvez”). Apesar de ter recebido os créditos. Miles o chamava de “crazy albino” e se tivesse a oportunidade de reencarnar, escolheria ser Hermeto. Seu legado é imensurável, não só musicalmente falando. Bem o uso de objetos do nosso cotidiano para compor e tocar música. Seu perfeccionismo era notório.
Fazendo com que os músicos que o acompanhavam a ensaiar por mais de 16 horas por dia. Isso é exemplificado com a fala de Paulo Santos, cofundador do grupo Uakti. Totalmente influenciado por Hermeto. Bem como ele, criaram os próprios instrumentos. Eles tentaram fazer o mesmo por 17 horas. Imaginaram que ficariam como o "Bruxo", brincando a respeito. Completa: “O Hermeto sempre foi uma referência de qualidade e excelência musical. Tanto em relação à técnica quanto à composição. Ele fez um calendário de música”. Ratificando como o “Bruxo” influenciou diretamente a montagem dos instrumentos tocados pelo Uakti. O grupo foi formado em 1978. O ano de 2015 marcou o fim de suas atividades. Hermeto deixa seis filhos, 13 netos e 10 bisnetos.
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