Enquanto muitos imaginam que o cinema da nossa terra brasilis nos últimos tempos se resume em comedias pastelões como “Caindo na Real” e “Tudo Por Um Popstar 2”. De tempos em tempos surgem filmes que chamam atenção do público e da crítica, mostrando a relevância de outrora. No caso, estamos falando de “Ainda Estou Aqui (2024)” de Walter Salles, que foi ovacionado no ultimo último Festival de Veneza. Pelo qual ganhou o prêmio de Melhor Roteiro (Heitor Lorega & Murilo Hauser) e a atuação de Fernanda Torres sendo elogiada mundo afora. Onde inclusive é cotada a ser indicada ao Oscar para Melhor Atriz. Enquanto isso, vamos aguardar os futuros indicados à premiação. A película finalmente está estreando por aqui, após uma concorrida e única exibição na 48ª edição da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.
Baseado no livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva, lançado em 2015, que retrata um momento vivido pela sua família. Em plena ditatura militar no Brasil, seu pai Rubens Paiva foi chamado para um interrogatório pelas forças militares e nunca mais voltou. A protagonista do conto é sua mãe Maria Lucrécia Eunice Facciola Paiva, vivida por Fernanda Torres. Como Rubens temos Selton Mello. Salles exibe a tensão de quem viveu naqueles tempos. Especialmente em 1971. Batidas policiais e o autoritarismo de quem deve proteger as pessoas. Quando na verdade, estavam lá para oprimi-las através da intimidação física e armada. Ao mesmo tempo, na harmonia vivida pela família Paiva.
Rubens é a perfeita representação do pai zeloso e amoroso. Eunice é a matriarca que protege a família de tudo e todos. Até que a estabilidade da família é abalada com o sumiço de Rubens. Um ex-político que perdeu o mandato quando os militares assumiram o poder no país. Por causa de suas conexões, é chamado para esclarecer sua posição política. O tempo passa e Eunice tenta descobrir o paradeiro do marido. Sem sucesso, já que o exercito brasileiro declara que desconhece o que acontece e que ele foi liberado. Enfrentando o sistema politico da época, Eunice tenta entender o que houve. Acreditando que Rubens foi feito prisioneiro politico e colocado em um local ignorado.
Dai o mote para “Ainda Estou Aqui”, onde Walter mostra com um poder opressor pode destruir famílias. A pedido de Marcelo, as sequencias de tortura contidas no livro foram suavizadas. Como a prisão de Eunice por quinze dias no quartel general do exército no Rio de Janeiro. Sendo interrogada diariamente sobre as atividades de Rubens. A construção de Fernanda para sua personagem é primorosa. Uma atuação silenciosa e cheia de nuances. Olhares, gestos e uma fala calma que não deixam transparecer o desespero, o medo e principalmente a raiva por aqueles que deviam cuidar com zelo de seus cidadãos. Neste caso, o governo vigente. Ao mesmo tempo, tranquilizar os filhos e lhes proporcionar a estabilidade necessária para seguirem com suas vidas.
Dividido em três atos: em 1971 em plena ditadura e a mudança para São Paulo, após Eunice vender a casa no Rio de Janeiro. E fazer a faculdade de letras e mais tarde de direito. Já em 1996, formada em direito ambiental, se tornou uma árdua defensora pelos direitos dos indígenas. E o reconhecimento do governo brasileiro das pessoas desaparecidas na ditadura como mortas pelos militares e atestado de óbito de Rubens. E nos anos 2000, vive seus últimos momentos em família, veio a falecer em 13 de dezembro de 2018. Diagnosticada com mal de Alzheimer. Aqui feita pela mãe de Fernanda, a icônica Fernanda Montenegro, que deixa seu recado nos poucos minutos em cena. A emoção vai à flor da pele.
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