O cineasta alemão Wim Wenders é conhecido pela sua versatilidade artística. Um dos maiores exemplos é o cult “Asas do Desejo” de 1987, onde o anjo Damiel se apaixona pela trapezista Marion, resolve deixar sua tarefa de proteger e orientar pessoas como você e eu. Explorar os EUA com o indie “Paris, Texas” em 1984 ou se aventurar no road movie com ares de policial com “Até O Fim do Mundo” em 1992 e passear no mundo do rock’n’roll ao lado de Bono e o U2 ao realizar o drama “O Hotel de Um Milhão de Doláres” em 2000, a partir do roteiro escrito pelo engajado vocalista da banda irlandesa. Agora ele vai até a terra do sol nascente em “Dias Perfeitos (Perfect Days, 2023)”. Aqui conhecemos o solitário Hirayama, feito pelo veterano ator japonês Köji Yakusho, que acorda todos os dias ao som da vassoura utilizada pela vizinha ao limpar a fachada da sua rua.
Ele recolhe futon, edredron e travesseiro. Desce até a cozinha, que também serve como pia para escovar os dentes, lavar o rosto e fazer a barba. Logo em seguida, vestir seu uniforme. Ao sair, ele olha para o céu e solta um sorriso. Daí pega um suco da maquina localizada do lado de fora e vai até sua minivan. Daqui liga seu som e escolhe uma fita cassete para ouvir. Isso mesmo que você acaba de ler, uma fita cassete! Selecionando The Animals, para começar seu dia ao som da clássica “The House of the Rising Sun”. Assim partimos para sua rotina de trabalho. Hirayama trabalha como limpador de banheiros públicos. Estes foram instalados durante as Olimpíadas 2020 no Japão, mas devido à pandemia da Covid 19 elas foram realizadas em 2021. Por decisão do governo japonês, eles permaneceram em funcionamento para a população.
Assim seguem seus dias, com Hyrayama os levando com leveza e alegria. Deixando os banheiros limpíssimos e ajudando as pessoas que tenham duvidas de como usa-los. Ou mesmo socorrendo um menino perdido da mãe que se escondendo dentro de um deles. Sua rotina é simples, na hora do almoço vai até um jardim e tira fotos das arvores em meio aos raios solares. DETALHE: é uma câmera polaroide. Volta para casa vai até um fast food próximo da sua residência e percorre o caminho com sua bicicleta. E lê um livro antes de dormir. Assim se segue ate o final de semana. Acordando mais tarde e vai até o centro de Tóquio. Revelar as fotos que tirou e comprar mais filme para sua câmera. Aproveita para lavar seu uniforme na lavandeira e ir ao restaurante em frente. Onde conhece a dona, chamada por todos como Mama (Sayuri Ishikawa).
De volta ao trabalho, ele tem o auxilio do jovem Takashi (Tokio Emoto) que precisa de dinheiro para sair com Aya (Aoi Yamada). Ao mesmo tempo, recebe a visita inesperada da sua sobrinha Niko (Arisa Nakano) e ela o acompanha durante o dia de trabalho. Assim seguimos Hirayama em seus “Dias Perfeitos”. Wenders que escreveu o roteiro ao lado de Takuma Takasaki, eles nos trazem o contraste entre o novo e o velho Japão. Durante o percurso entre os banheiros, vemos a magnitude da arquitetura da cidade, exemplificada com a Tokyo Skytree, e no bairro em que mora onde a simplicidade se faz presente. Muito bem representada por Hyrayama, que escuta musica através de fitas cassete. Puro deleite musical.
Aqui
o passado ganha relevância com a presença de Aya, que escolhe um dos cassetes e
ouvimos “Redondo Beach” de Patti
Smith e ela se encanta com o som. Buscando pela artista no Spotify. Este é
retomado com Niko, que escolhe Van Morrison e escuta “Brown Eyed Girl”, questionando o tio se o artista está na
plataforma. Hirayama fica sem resposta, porque não sabe o que é Spotify. E como
não poderia faltar nos filmes de Wenders,
o bom e velho Lou Reed se faz presente com “Pale
Blue Eyes” gravada com o seminal Velvet Underground e a bucólica “Perfect Day”. Esta serve como canção
tema da película.
Acompanhamos Hirayama em seu dia a dia, aparentemente comum. Mas que com o passar dos dias, vemos sua personalidade esconde segredos que são revelados no decorrer do filme. Em especial com a presença inusitada de Niko e quando vai ao restaurante de Mama, onde os dois nutrem um carinho mutuo. Refletindo como a vida pode ser solitária, mas isso é determinado por escolha própria. Se estamos felizes desse modo, quem são os outros para contestar.
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