David Fincher é um cineasta conhecido pelo seu jeito extremamente metódico no set de filmagem. Por exemplo, fez com que Jesse Eisenberg e Rooney Mara encenassem a cena de abertura de “A Rede Social (2010)” quase cem vezes até conseguirem fazer o que vimos no corte final. Além do olhar apurado que transforma seus trabalhos em obras de arte como o cultuado “Se7en: Os Sete Pecados Capitais (1995)”, “O Clube da Luta (1999)”, o citado “Rede Social” e “Mank (2020)”. Agora ele nos traz o thriller “O Assassino (The Killer, 2023)”, baseado na HQ francesa de mesmo nome escrita por Alex “Matz”Nolent e com arte de Luc Jacamon. Onde temos o matador de aluguel interpretado por Michael Fassbender. Este há quatro anos sem atuar, para realizar um sonho pessoal. Correr as 24 Horas de LeMans e se preparando desde 2017.
Seu último filme na época foi “X-Men: Fênix Negra” em 2019. Isso foi devidamente documentado em “Michael Fassbender : Road to LeMans”, disponível no canal do YouTube da Porsche: https://www.youtube.com/playlist?list=PLKduzfEGbn-H25n-WbyXnYcevAzBXEgOr. Voltando com tudo no papel de uma pessoa metabólica, assim como Fincher, regida pelo mantra: “Siga o plano. Não confie em ninguém. Preveja, não improvise. Nunca ceda a uma vantagem. Lute apenas a batalha para qual foi pago. Pergunte a si mesmo: O que ganho com isso? Siga o plano”. Ele é considerado o melhor na sua linha de trabalho. Ficando horas de olho em seu alvo, até o momento para dar o tiro mortal. Por exemplo, ele explica detalhadamente seu método. A vigilância em um prédio com a distância certa para a ação. Passando dias e noites até surgir a oportunidade perfeita. Noites mal dormidas, ouvindo Smiths para passar o tempo e comentar sobre música.
Ela o ajuda a se concentrar e não se distrair para executar o serviço. Até que chega a hora, tudo previsto para ocorrer conforme planejado. Porém, por incrível que pareça, ele erra o alvo. Precisa sair de lá, o mais rápido possível. Busca pelo advogado Hodges (Charles Parnell), seu interlocutor com quem o contratou. Este o alerta para sumir por um tempo, até surgir uma nova chance. Chegando em sua morada na República Dominicana, sente que há algo de errado. Vê sua casa virada de cabeça para baixo e marcas de sangue nas paredes. De imediato, corre para o hospital local atrás de informações. Descobrimos que uma jovem mora com ele. Ela se chama Magdala, vivida pela brasileira Sophie Charlotte (“Meu Nome é Gal, 2023”). Bastante ferida, ela não consegue descrever seus agressores.
Transtornado, investiga como o fato ocorreu. Descobre que usaram o serviço de taxi da cidade, indo atrás do carro e do motorista. Este relata quem atacou Magdala. Um homem grande de origem latina que mancava e a outra, uma mulher albina que lembrava um cotonete. Era a informação necessária que o assassino precisava. Por isso, resolver fazer o contrário do que prega para si. Vai até Hodges para descobrir quem mandou mata-lo. Ao pressiona-lo, o atinge mortalmente e sua assistente Dolores (Kerry O’Malley) para não ser mais uma vitima, diz que tem a informação que ele deseja. Indo até sua casa, onde possui um fichário com os nomes de todos os matadores de aluguel que fazem parte do seu catalogo. Além de possíveis e atuais clientes.
O homem é chamado “O Bruto” (Sala Baker) e reside na Florida. Já a mulher é conhecida como “A Expert”, interpretada pela veterana Tilda Swinton (a Anciã de “Doutor Estranho, 2016”). Ela mora em Nova York. Fazendo com que o assassino vá ate eles e executar seu plano de vingança. Aqui vemos como Fincher exibe toda sua técnica e olhar apurado. Uma grande sequencia de luta entre o assassino e Bruto, onde destroem a casa do segundo. E o primeiro executando seu mantra para ser bem sucedido. Dopando o bulldog de Bruto, após acompanhar de perto sua rotina diária. Só ouvimos o som ambiente e sem musica de fundo, os dois lutam ferozmente. Já com a Expert vemos o contrario.
Ela mora num residencial fechado e sai para jantar num restaurante de alto padrão da cidade. A tensão está no ar, o assassino senta na sua mesa e a troca de olhares é fulminante. Certa que é seu fim, a Expert tenta dissuadi-lo e este não lhe diz uma palavra. Você pode imaginar o que houve depois. David nos faz sentir o suspense na flor da pele, já que a sequência é tão sutil e precisa. Assim chega ao Cliente (Arliss Howard), quer saber se existe alguma desavença entre os dois. Um multimilionário chamado Claybourne que contratou seus serviços. Assim temos o mote inicial de “O Assassino”, adaptada por Andrew Kevin Walker, que escreveu “Se7en”. Junto a Fincher dividiu o conto em capítulos como se estivéssemos lendo uma história em quadrinhos.
Indo na contramão dos filmes do gênero, como a franquia “John Wick”. Optam por um filme de ação enxuto, suspense na medida certa e a marca cinematográfica de Fincher. No caso, a fotografia soturna de Erik Messerschmidt, edição de cena precisa por Kirk Baxter e angustiante trilha musical de Trent Reznor & Atticus Ross que acompanha a jornada do Assassino. São colaboradores constantes de David. Fassbender está ótimo e mais contido do que acostumamos a vê-lo. Com ele ouvimos os Smiths para executar seus trabalhos. “Well I Wonder”, “How Soon Is Now?” e “Girlfriend In A Coma” estão na sua playlist.
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