Frank Zappa foi um dos músicos mais versáteis e controversos que tivemos. Seu som não pode ser definido como rock’n’roll, jazz, blues e r’n’b, dentre outros gêneros musicais. A melhor definição é simplesmente Zappa. Nunca ficou preso a paradigmas, apenas fez tudo ao seu modo. Até o falecimento em 04 de dezembro de 1993, diagnosticado com câncer de próstata. Desde então seu catalogo foi sendo revisado com o passar dos anos. Sua legião de fãs e admiradores só cresceu. Entre eles, Alex Winter. Mais conhecido como Bill da franquia “Bill & Ted: Dois Loucos no Tempo”, que estrelou ao lado do Neo Keanu Reeves. Paralelamente construiu uma carreira como diretor. Entre seus trabalhos temos os vídeo-clips dos Red Hot Chili Peppers, “Higher Ground”, “Knock Me Down” e “Taste The Pain”. Além de séries animadas como “Ben 10”.
Com autorização da família, a esposa Gail e os filhos Moon, Dweezil, Ahmet e Diva Zappa, Alex pode pesquisar nos arquivos pessoais de Frank e produzir o documentário “Zappa (2020)”. Deixando o próprio biografado contar sua história. Com vasto material, seja dentro do estúdio ou em turnês, ou simplesmente em casa brincando com os filhos, ele era uma pessoa como você e eu. Vemos sua personalidade forte e empreendedora. Uma grande vantagem para Winter, é que Frank registrava todo seu cotidiano. Dentro e fora dos estúdios. Além do grande acervo musical e entrevistas à televisão e rádio. À primeira vista, o que parece ser uma pessoa reclusa e ditadora, alguns falavam. Quando vemos na verdade, é alguém que desejava se expressar musicalmente.
Não se importando com tendências e opinião alheia. Um dos mais notórios artistas do século XX, Zappa é apresentado a obra de Edgar Vàrese (1883 – 1965), um dos músicos experimentais mais influentes da primeira metade do século XX. Isso foi impulso necessário ao então jovem Frank a partir para a carreira musical. Compondo e gravando tudo o que vinha na sua cabeça. E deixando para o momento certo as canções que não conseguia desenvolver melhor. Trabalhando compulsivamente e tendo a esposa Gail a tiracolo. Esta reflete o dia a dia ao seu lado, fazendo de tudo um pouco para ajudá-lo. Já que o faziam de forma independente, sem auxílio de gravadora ou empresário. Eles próprios administravam tudo. Apesar de um certo caos, conseguiam fazê-lo.
Contando com depoimentos de pessoas que tocaram com ele, como a musicista Ruth Underwood, os guitarristas Mike Keneally e Steve Vai, e a escritora Pamela Des Barres. Todos reverenciam a genialidade musical de Frank. Já este comenta que não tinha amigos e nem colega no mundo da música. Pois não havia uma proximidade no campo pessoal, eram apenas músicos contratados. Isso é exemplificado quando foi atacado por um fã durante um show. Eles caíram do palco e Zappa ficou imobilizado por mais de nove meses. Preso à uma cadeira de rodas. Ao falar do assunto, exclamou que ninguém veio visita-lo ou mesmo ajuda-lo até sua recuperação. Outra boa fala foi a conversa que teve com o beatle Paul McCartney sobre a capa do álbum da sua banda Mothers of Invention, “We’re Only In for the Money?”, de 1968.
Uma clara parodia ao antológico “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band (1967)” dos Beatles. Ele queria deixar bem claro sobre uso da imagem e se tudo bem em utiliza-la, legalmente falando. Paul apenas respondeu que isso é um assunto a ser tratado por advogados. Frank deixa bem claro seu descontentamento com a postura de McCartney. Alex quebra um mito sobre Zappa. Ao contrário de que muitos imaginavam, ele não era um junkie e hippie amalucado. Apenas uma pessoa que encarava os desafios de frente. Não se importando com os obstáculos a frente. Acompanhando sua jornada, desde projetos que quase o faliram como a tentativa de fazer música clássica.
A gravação com a London Symphony Orchestra na terra do agora Rei Charles em 1983 e o sucesso repentino da canção “Valley Girl” composta e gravada ao lado da filha Moon em 1982. Esta tem uma boa história de família. Apesar do amor incondicional aos quatro filhos, Frank não ficava muito em casa. E por isso, Moon o acompanhou no estúdio para juntos fazerem “Valley Girl”. Ruth Underwood faz um dos comentários mais emocionantes. Ela escreveu uma carta de agradecimento a Zappa. A oportunidade de tocar ao seu lado e como isso a enriqueceu musicalmente. Já Steve Vai discute a complexidade em tocar o que Frank componha. Tanto ele quanto Ruth, concordam que a canção de “The Black Page” é um bom exemplo disso. Destacando sua beleza e harmonia musical.
Alex nos exibe uma pincela sobre a persona de Frank. Alguém incansável, tentando equilibrar a vida artística com a família e deixando sua marca. O legado deixado por ele é imensurável. Isso é exemplificado na então Tchecoslováquia. Onde as rádios e os jovens eram proibidas pelo regime soviético, de tocarem e ouvirem sua música. Ela se tornou um hino de protesto e sobrevivência para aquele momento triste na história mundial. Quando o regime caiu, ele se tornou um representante para o país. Em entrevista à revista Rolling Stone disse: “Zappa foi um homem extremamente complicado e brilhante, que tinha tanto difamadores quanto fãs. Descobri horas e horas de entrevistas inéditas que Frank armazenou, de diferentes momentos da sua vida ... Basicamente consegui fazer com que ele narrasse a própria vida. Em alguns casos ele começa uma anedota em 1969, continua o pensamento em 1980 e parece encerrar a própria história em 1991. Isso permitiu que nós criássemos uma perspectiva caleidoscópica de Frank através do tempo. Algo parecido com o que ele fez com sua música”.
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