O festival de Woodstock em 1969 se tornou icônico e uma demonstração clara que a humanidade podia conviver e lutar por um mundo melhor. Aproveitando o clima flower power e a simbologia “Paz & Amor”, que ficou mundialmente conhecida com os dedos em V, a contracultura se fez presente. O racismo e a guerra no Vietnã foram colocados de lado e ao mesmo tempo, Woodstock era um protesto contra ambos. Marcado pelos shows antológicos do The Who, Joan Baez, Santana, Joe Cocker e o encerramento de suas atividades com o guitar hero Jimi Hendrix, o festival deixou sua marca na história. Em 2019, foi celebrado seus 50 anos, mais no link: https://cyroay72.blogspot.com/2019/08/a-era-dos-festivais-se-iniciava-50-anos.html
Idealizado por Michael Lang, Woodstock era um momento para celebrar a vida ao lado dos melhores amigos e da família, esquecer as desavenças e lutar contra a guerra do Vietnã, ao mesmo tempo com música da melhor qualidade. Em 1994, tivemos a edição que comemorou seus 25 anos com artistas como Green Day, Red Hot Chili Peppers, Metallica e Aerosmith. Os mesmos problemas de 1969, retornam. A logística para abrigar tanto os artistas quanto o público, a locomoção até o local e a superlotação. Apesar de toda experiência adquirida e contra todos que diziam que fazer um novo Woodstock era um erro, o empresário John Scher foi contra a maré. Scher convenceu Lang a realizar a edição que celebrou os 30 anos do festival, o fatídico “Woodstock 99”.
Realizado na base área desativada Grifiss na cidade de Rome, próxima de Nova York (EUA) de 23 a 25 de julho de 1999. O que parecia ser uma boa ideia, se provou ser a pior delas. Desde a locação do local como a logística. As pessoas eram revistadas e não podiam levar comida e agua para dentro. Quem trazia, era forçado a jogar fora. Sem contar o calor escaldante e a distância dos palcos para a tendas montados pelas pessoas no seu entorno. A higiene pessoal era outro problema. Banheiros químicos inoperantes e filas quilométricas para chegar ao chuveiro para tomar banho. A limpeza também trouxe mais um problema a resolver. A empresa contratada não compareceu e o lixo foi se acumulando. Garrafas plásticas, papel, restos de alimentos por todo local. E a segurança do festival foi feita por pessoas sem experiência no assunto.
Já que Lang não queria a força policial rondando a área. Essa e outras falhas são relatadas no documentário “Desastre Total: Woodstock 99 (Trainwreck: Woodstock 99, 2022)”. Produzido pelo canal das redes sociais Netflix, trazendo os bastidores onde os próprios envolvidos chamam de “tragédia anunciada”. Com depoimentos de pessoas que fizeram parte das equipes técnica, marketing, segurança e medica, percebe-se que eles não estavam preparados para um evento dessa magnitude. Desde o início, Scher e Lang foram alertados que o pior poderia acontecer. O que ninguém queria ver, ocorreu. O que se vê uma estrutura montada extremamente frágil e não dava o suporte necessário para o público pagante. Este também foi um fator que agravou ainda mais a situação. Os valores cobrados na época, deixou muita gente insatisfeita.
E não tinha como se alimentar, manter a higiene e a sujeira acumulada nos três dias do festival, só cresceu o sentimento de raiva entre os presentes. Dividido em três episódios, vemos algo indescritível. Do fascínio inicial para o pior que uma pessoa pode fazer em relação ao seu próximo. Além do que foi escrito anteriormente, uma total falta de organização de Lang e Scher ao preparar o festival. Sem dar o suporte necessário para quem estava lá no dia a dia. No caso, o pessoal de campo nas tendas de atendimento ao público e a equipe medica. Entendendo que o ideal “Paz & Amor” foi substituído pelos cifrões dos dólares. Fora a montagem do line up. Ao contrário das outras edições, os principais artistas eram vindos do Nu Metal. Gênero do Metal em evidencia naquele momento. Korn e Limp Bizkit, eram seus representantes.
Outros foram chamados como Jewell, Sheryl Crow, Alanis Morissette, The Offspring, Rage Against The Machine, Metallica, Willie Nelson e o godfather of funk James Brown que abriu o festival. Este tem uma história interessante. Até sua apresentação, ele não havia sido pagado. Só subiria no palco, se isso ocorresse. Scher corre contra o tempo e manda seu assistente fazer o deposito. Confirmado pelo empresário de Brown e aí, o show começa, com certo atraso. Kid Rock e Bush se fizeram presentes. O primeiro chamou atenção pelo casaco de pele branco na entrada do palco e o calor insano que fazia no local. Já o segundo, tentando apaziguar os ânimos dos presentes após o impactante show do Korn.
Com o passar dos dias, os ânimos se acirram entre as pessoas. A falta de condições para o convívio no festival deixa a todos irritados e desnutridos. Sem agua e comida, muitos são levados a desidratação e havia pouco a se fazer pelos médicos e enfermeiros no local. Assim como o público, no limite de suas capacidades físicas e mentais. Sem contar o consumo desenfreado de álcool e drogas. O que levou a relatos de abuso sexual e estupro. O ambiente propicio, tanto homens quanto mulheres, andavam à vontade no local. Sendo infelizmente a do sexo feminino as principais vítimas. Um dos relatos mais chocantes é de um funcionário da tenda rave do festival.
Durante a apresentação do dj Fatboy Slim, uma van invade a área em meio as pessoas. Ela foi roubada e dirigida por jovens no local. Ao tentar retira-los, vê uma menina seminua. E em cima dela, um rapaz colocando o short de volta. Claramente houve um estupro e o funcionário percebe que a situação dentro do festival estava fora do controle. Evidenciada com o show de encerramento dos Red Hot Chili Peppers. Apesar de certa tranquilidade, Lang tem a “infeliz” ideia de distribuir velas para pessoas e acende-las em homenagem às vítimas da escola de Columbine em abril daquele ano. O que parecia ser um sonho com “Under the Bridge” rolando, para logo em seguida se tornar um pesadelo. Pequenos focos de incêndio em volta do palco principal, fazem com que a banda saia dele para evitar o pior. Mas ele já estava ocorrendo.
Eles acabam retornando e tentam acalmar as pessoas, mas a escolha da canção não foi acertada, tocam “Fire” de Jimi Hendrix. A situação agravou ainda mais e o caos se instaurou de vez, quando souberam a tão falada atração surpresa não vingou. Torres de som e luz foram derrubadas. Barracas com venda de produtos oficiais foram furtadas e destruídas. “Desastre Total: Woodstock 99” evidencia as escolhas erradas de seus organizadores e mesmo assim, acreditam até hoje que foi um sucesso. Quando na verdade foi uma amostra de como não fazer um festival naquelas proporções. A desordem se tornou palavra de ordem. Por exemplo, o encanamento de agua potável foi destruído e se misturou com o sistema de esgoto. Fazendo com que as pessoas consumissem agua impura e consequentemente, adquirissem doenças de pele e bucal.
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