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Em "NOTHING COMPARES", a cantora irlandesa Sinead O'Connor abre seu coração ... literalmente

Quando a irlandesa Sinead O’Connor participou do programa humorístico norte-americano “Saturday Night Live” em 03 de outubro de 1992, acredito que nem ela imaginou o impacto do seu ato no palco do programa. Após sua chamada, ela entoou “War” de Bob Marley para logo em seguida rasgar uma foto do então Papa João Paulo II em frente às câmeras e dizer: “Lute com o verdadeiro inimigo”. Isso não só causou um reboliço na terra do tio Sam, mas mundialmente. Fora que ela já havia se desentendido com a produção de um festival de música que participou. Em uma homenagem aos soldados norte-americanos que lutavam na Guerra do Golfo, o hino dos EUA era tocada na sua abertura. Ao saber disso, ela se recusou a subir no palco. Após conversar com seu staff, Sinead foi convencida a tocar.


Por essas e outras, ela foi banida do mundo do entretenimento. Agora com o documentário “Nothing Compares (2022)” da diretora e também irlandesa Kathryn Ferguson, ela tem a oportunidade de contar a própria história e seu ponto de vista sobre os eventos que praticamente a “cancelaram”. Antes mesmo disso ocorrer nas redes sociais que vivemos nos dias de hoje. Sabemos mais sobre sua vida e como ela foi se tornar a artista que bem conhecemos no final dos anos 80 e início dos 90. Desde pequena, a influência dos pais é grande. Sua mãe possuía uma vasta coleção de LP’s dos mais variados estilos. Destaque para os clássicos musicais. Já seu pai cantando cânticos irlandeses e isso a influenciou profundamente. A religião dita as regras em seu país.


Sendo educada pelo catolicismo ortodoxo, Sinead narra a própria história. Dizendo que via como a igreja se esconde por debaixo dos panos, os próprios pecados. Apesar de ser religiosa, como ela bem diz, condena as mentiras ditas por aqueles que são representantes de Deus na Terra. Sua personalidade forte foi se moldou aos poucos, apesar da aparente fragilidade. Seus pais se separam e aí vemos como isso a afetou. Ela conta que quando foi morar com a mãe, ela viveu no jardim da casa por uma semana. Quando tentava chamar a mãe, a via distante. Sem contar os abusos físicos e psicológicos sofridos. 





Se abrigando no internato que estudava, lá seu talento para música foi notado e aprimorado por uma das suas professoras. Assim Sinead iniciou sua carreira, indo para Londres e colocando anúncios em revistas como Melody Maker e New Music Express (NME) para formar uma banda. Conhece pessoas e participando de bandas locais, até conseguir gravar seu primeiro álbum, “The Lion and the Cobra” em 1987 aos 20 anos de idade.  Com o hit “Mandinka”, ela faz sucesso no mundo todo e inclusive é chamada para participar da cerimônia do Grammy daquele ano. Aí vemos começando sua chama rebelde ascender. O grupo de rap Public Enemy se recusar a tocar, por não concordar com a política do Grammy em não criar uma categoria para os artistas que fazem rap. Sinead careca, ela cortou os cabelos antes de ganhar a fama, tem desenhado na sua cabeça o símbolo do Public Enemy. Sendo uma forma de apoio ao grupo.

Apesar disso, ela foi elogiada e isso impulsou sua carreira. Ao mesmo tempo gravava o segundo disco, “I Do Not Want What I Haven’t Got (1990)”. Que contém seu maior sucesso, a balada “Nothing Compares 2U” de Prince. Por causa dos admiradores do espolio dele, não foi autorizado o uso da canção no documentário. Mesmo assim, vemos os bastidores do seu cultuado videoclipe com comentários do diretor John Maybury e da própria. Ela diz que a as lagrimas que vimos no final do vídeo, surgiram de forma natural, ao contrário do que muitos imaginavam. Aproveitando seu momento para lutar pelos direitos da mulher ao aborto e contra os pedófilos dentro da igreja católica. Em especial na sua terra natal. Lá as mulheres ainda eram vistas abaixo dos homens. Submissas aos desejos e seus afazeres como esposas. Sem direito ao voto e se posicionarem publicamente como se sentiam a respeito.


No decorrer de “Nothing Compares” vemos como Sinead foi uma grande influência para mudanças na Irlanda atualmente. Assim como o mundo ao nosso redor. A fama crescente, transformaram sua imagem. Recatada na sua rotina ao lado do filho Jake e do companheiro John Reynolds. Como artista, mostrava a que veio. Além de soltar sua voz, ela possui a atitude para lutar pelo o que acha certo. Depois do terceiro trabalho “Am I Not Your Girl (1992)”, já era considerada uma das grandes artistas da sua geração.  Até seu momento derradeiro no Saturday Night Live, que abre o documentário.  Agora vemos as consequências de seu ato. Causando certo estrago em sua carreira, se tornou motivo de piada e ódio nos EUA. Fora que o impacto ao redor do globo terrestre, onde parte da comunidade artística a apoiou. DETALHE: A foto de João Paulo II estava no quarto da casa da mãe de SineadEm meio a isso, participou do tributo ao poeta folk Bob Dylan, “The 30th Anniversary Concert Celebration” em 16 de outubro de 1992. 


Seu grande ídolo, ela cantaria “I Believe in You”. Misto de aplausos e vaias, é visível o constrangimento de Sinead. Ela comenta que ficou em dúvida se deixava o palco ou se ficava encarando aqueles que a vaiavam. Entoando a capela “War” e logo em seguida é confortada por Kris Kristoferson. De forma cronológica, Ferguson exibe a ascensão e a “queda” de Sinead, enfatizando o ponto de vista da artista. Que não se arrepende do que fez, seguindo com sua carreira. E bem à frente do seu tempo. Por exemplo, ela raspou a cabeça, antes de se encontrar com o executivo da gravadora. A imagem típica da mulher de cabelos compridos, maquiagem e sexy, eram contrárias o que Sinead queria para si. Vivendo, apesar de todos os percalços. Recentemente se converteu ao islamismo e sendo nomeada como Shuhada’ Davitt. Mas mantém o nome artístico.


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