O mundo do rock também seus preconceitos. No caso com as mulheres. É muito difícil para elas alcançarem o reconhecimento e o sucesso no mesmo patamar que os homens. Um desses casos, são as “Go Go’s”. O quinteto formado por Berlinda Carlisle (vocais), Jane Wiedlin (guitarra e vocais), Charlotte Caffey (guitarra solo, teclados e vocais), Gina Schock (bateria e vocais) e Kathy Valentine (contrabaixo e vocais) é um único grupo musical formado por mulheres que atingiu o Nº1 na parada da Billboard como álbum mais vendido com “Beauty and the Beat” em 1981. Para chegarem a isso, “comeram o pão que o diabo amassou”.
Originárias da cena punk em Los Angeles em 1979, Jane e Berlinda se conheceram. Juntas procuraram outras como elas para formarem uma banda. Já que o circuito de amigos era bem restrito a quem estava na cena. Como Elisa Bello (bateria) e Margot Olavarria (contrabaixo), comporam da primeira formação das “Go Go’s”. Nenhuma delas sabiam tocar seus respectivos instrumentos, só Jane que teve aulas de violão quando mais nova. Sentem a necessidade de se aprimorarem musicalmente, até que conhecem Charlotte. Esta já tinha uma noção e tocava contrabaixo na banda “The Eyes”.
Foi chamada para um ensaio, com um porém. Ela seria a guitarrista responsável pelos solos. De início se assusta, mas a assume o posto. Mais tarde se tornaria a principal compositora ao lado de Jane. Com tudo acertado, se apresentam no club Masque. As primeiras apresentações, não agradam nem elas e nem ao público. Devido à pouca experiência das mesmas com os instrumentos e postura de palco. Isso só as motivou a seguirem em frente, para se tornarem melhores instrumentistas e com muita atitude na frente de todos. O otimismo e a obstinação delas são exemplos a serem seguidos.
Mesmo com todos os obstáculos, conseguiram chamar atenção da empresaria Ginger Canzoneri. Que as ajudou a conseguir novas apresentações como abrir para o grupo britânico de ska Madness. Isso de certo modo as impulsionou. Os ingleses impressionados com elas, as convidam para uma turnê na terra da Rainha, juntamente com outra banda do gênero, os Specials. Fazendo com que Gina vendesse todas suas posses para garantir que as “Go Go’s” consigam participar da turnê. Como nada é fácil para as meninas, a recepção é fria. O preconceito fala mais alto, sendo bastante discriminadas.
Mesmo assim, Gina consegue um contrato com a gravadora do Madness, Stiff Records, para lançar o single “We Got The Beat”. Até faz sucesso na Inglaterra e antes do retorno delas ao país natal, o single já estava rolando nas rádios. Graças ao esforço de Canzoneri, que fez seu “dever de casa”. Junto a isso, uma propaganda sobre a ida delas à Inglaterra. Isso ajudou a divulga-las e já chamando atenção. O resultado é positivo, elas começam a atingir o sucesso desejado e com shows lotados. Só que não conseguem contrato com nenhuma gravadora, porque não acreditam que uma banda formada por mulheres lhes dê o retorno financeiro imaginado. São contratadas pela I.R.S. Records de Miles Copeland. Irmão do insano Stewart Copeland, baterista do power trio The Police.
Daí a gravação do primeiro álbum “Beauty and the Beat” e a sugestão de Miles para “Go Go’s” abrirem os shows do Police. Deixando os pequenos pubs que tocavam para irem direto para as grandes arenas. O sucesso é imediato. Durante a jornada, duas baixas. Elisa é mandada embora, por não se comprometer, sendo substituída por Gina. E Margot discordando dos rumos musicais, é demitida por Gina em uma ligação de telefone. Já que as outras não tiveram coragem de fazê-lo pessoalmente. Em seu lugar Kathy. Musicista e guitarrista.
Teve que aprender as linhas de contrabaixo da noite para o dia, em uma gravação muito ruim feita em cassete. Já que Margot estava adoentada e a banda tinha um show para marcado para a virada de ano. Daí uma guinada na carreira delas, com o álbum fazendo muito sucesso, logo vem a pressão para um segundo. Mas devido as longas turnês e a criatividade em baixa, lançam o single “Vacation”. Composição de Kathy em sua banda antes da entrada nas “Go Go’s”, Textones.
Elas percebem
que o sucesso só crescia e precisam de um empresário mais experiente para cuidar
dos negócios. A partir daí, é quando as coisas começam a ruir para as meninas. Charlotte se torna usuária de cocaína e
a divisão do dinheiro não era igualitária. Sendo que Caffey e Wiedlin eram as
principais compositoras e ganhavam mais por isso. Isso causou um incomodo entre
elas e culminando na saída de Jane. Já
que ela queria cantar uma canção sua, “Forget
That Day”, devido ao seu cunho pessoal no próximo disco, “Talk Show (1984)”. Em uma decisão interna,
ela não foi aceita. E por contrato, tinham uma turnê agendada. Jane o cumpriu e logo em seguida saiu
sem olhar para trás. Por indicação de Charlotte,
veio Paula Jean Brown (contrabaixo)
e com Kathy se tornando a
guitarrista. A ascensão e a queda das “Go
Go’s” é exemplificado com o show na primeira edição do Rock in Rio em 1985.
Assim temos um retrato honesto e sincero do documentário “The Go Go’s” escrito e dirigido por Alison Ellwood em exibição no festival online IN-EDIT 2021. Contando com depoimentos das próprias nos dias de hoje, onde relembram a própria história e com certo amargor em suas palavras. Juntamente com fotos da época tiradas por Gina, que dá um ar de mais autenticidade do que foi vivido por elas. Depois de passado tanto tempo, as magoas de outrora foram superadas. Atualmente, elas voltaram a tocam e a rir de si mesmas. Passados 19 anos, surge uma nova canção “Club Zero”. Entre idas e vindas, o ultimo trabalho autoral foi em 2001 com “God Bless the Go Go’s”. E reivindicando seu lugar no Rock’n’Roll of Fame, sendo indicadas este ano.
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