A terra do tio Sam possui suas peculiaridades como o restante do mundo. Assim como em nossa terra brasilis, onde temos literalmente descendentes do globo que cortam o país do Oiapoque ao Chuí. Um fenômeno que tem ganhado força por lá são pessoas que se tornam nômades. Algo semelhante por aqui no Brasil com o movimento dos Sem-Terra (MST). Só que nos EUA são pessoas comuns que perderam seus bens ou casas a partir da crise no meio imobiliário e bancário nos EUA em 2008. Além deles, empresas de pequeno e médio porte foram forçadas a fechar suas portas. Como no caso temos a comunidade Empire em Nevada, onde a principal fonte de renda de seus moradores encerrou suas atividades.
No caso uma mina. Por isso o casal Bob e Fern foram forçados a sair de lá. Porem ele veio a falecer de câncer e Fern se torna uma nômade. No caso, ela passa a morar na Van que possui e a transforma em sua nova morada. Cama, banheiro e cozinha improvisados. Assim ela parte, viajando pelo país para sobreviver e dar continuidade à sua vida. A personagem é baseado no livro escrito por Jessica Bruder, “Nomadland: Surviving America in the 21th Century (2017)”. Sendo adaptado por Chloé Zhao, que também assumi a cadeira de diretor e faz o trabalho de edição da película. Mantendo seu título original “Nomadland (2020)”, ela traz a versátil Frances McDormand (Oscar de Melhor Atriz por “Três Anúncios para um Crime (2017)” para ser Fern e seu alter ego em cena.
Mesclando um tom documental com ficção, onde vemos verdadeiros nômades como Swankie e Linda May compartilhando suas respectivas histórias com Fern. Como num passeio no encontro de nômades organizado por Bob Wells. A voz deles no meio, este é contrário ao capitalismo selvagem que rege a economia dos EUA. E como os norte-americanos são solidários entre si, um ajuda o outro nos momentos de necessidades. Por exemplo, quando Fern percebe que seu pneu furou e não possui estepe. Pede auxilio a Swarkie, apesar de contrariada, a levando até uma oficina e conseguindo trocar o pneu.
Fern consegue trabalhar na área de logística da Amazon de tempos em tempos, como empacotadora. Quando o tempo de serviço chega ao fim, parte para a estrada em busca de novos trabalhos e um local para estacionar sua van. No caminho, se descobre pessoalmente. Mesmo com a saudade latente por Bob, segue em frente. De cidade em cidade busca abrigo, um meio para ganhar dinheiro e sobreviver. Assim temos o mote inicial para “Nomadland”. Onde Zhao traz um retrato de uma América devastada pela crise de 2008, conhecida como “Grande Recessão”. Onde sua população de renda básica foi a mais afetada. Onde perderam suas poses e moradas, passando a viver como retirantes ou simplesmente nas ruas.
Sem um teto sobre suas cabeças, enxergam suas vans e seus trailers como um lar. De improvável, mas definitivo e que não é necessário criar lanços locais. A partir do momento que não há mais como sobreviver financeiramente, saem de lá, em busca de novos recursos. Aproveita para criticar o “American Way of Life” e exibe uma nova abordagem sobre menos privilegiados da sociedade norte-americana. Onde eles se tornam nômades para poderem se sustentarem e não a ficarem presos num sistema que não os auxilia. Literalmente “um soco no estomago” de uma sociedade capitalista e consumista, que só vislumbra riqueza e status social. Isso é exemplificado quando Fern precisa recorrer financeiramente à irmã para consertar sua van (morada).
Ao rever a família, eles discutem o valor dos imóveis na sua cidade e que poderiam ter lucrado mais com o que houve em 2008. Fern discorda radicalmente deles. No caso, estamos em 2011. Dormand simboliza bem este tipo de pessoa. Quieta, reflexiva e atenta ao seu redor. Bem como de personalidade forte. Convicta de seus ideais, prefere a estrada do que um lar propriamente dito. Ao contrário do que vimos mais recente de Frances em “Três Anúncios para um Crime”, é um papel onde olhares e gestos dizem mais do que palavras.
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