Revelado em 2009, o jovem rapper Emicida deu o ar do seu talento com a mixtape “Pra Quem Já Mordeu um Cachorro por Comida, até que Eu Chegue Longe ... ”, onde suas canções relatam a luta contra a desigualdade social e racial, e a comunidade em que vivia na infância. Desde então tem trilhado seu caminho e se tornando um dos grandes nomes do gênero e da nova geração da musica popular brasileira. Seus álbuns “O Glorioso Retorno de Quem Nunca Esteve Aqui (2013)”, “Sobre Crianças, Quadris, Pesadelos e Lições de Casa ... (2015)” e “AmarElo (2019)” ratificam isso. Este ultimo relata a contribuição da comunidade negra na cultura de nosso país tupiniquim.
Assim
originou o documentário “AmarElo: Tudo Pra Ontem (2020)”
dirigido por Fred Ouro Preto e
produzido em parceria com o canal das redes sociais Netflix. Gravado em novembro de 2019 no Theatro Municipal da cidade
de São Paulo, Emicida traz seu
relato pessoal que se mistura com a história do negro no Brasil. Ao mesmo tempo
exibe os bastidores de sua produção, onde parte dos músicos que o acompanham,
relatam que nunca tinham entrado no Theatro, nem num passeio turístico para
tirar uma foto. Isso entra no discurso de Emicida sobre inclusão social. Onde o
cidadão negro tem o direito de frequentar os mesmos espaços culturais que o cidadão
branco.
Mesclando com os questionamentos de sua pessoa. Como na canção titulo “AmarElo (com sample de “Sujeito de Sorte” de Belchior)”, sobre sua relevância artística e precisa se superar para não se deixar abater com a própria depressão, como bem diz na canção. Dividindo o microfone com Majur e Pablo Vittar. Mostrando que “Tudo Pra Ontem” é mais que documentário sobre a produção da apresentação e sim um relato sobre a história da cultura negra no Brasil. E como desconhecemos aqueles que fizeram parte da nossa história.
Como
o próprio à frente das câmeras, Emicida traça
um paralelo entre o show no Municipal e movimentos culturais como “A Semana de Arte Moderna” de 1922 e a
fundação do “Movimento Negro Unificado
(MNU)” em 1978. Dizendo: “Meus sonhos e
minhas lutas começaram muito tempo antes da minha chegada, mas para isso fazer
sentido tem que contextualizar algumas paradas”. Onde traz a tona as “Contribuições não-brancas para o
desenvolvimento do país”, memorias que foram literalmente apagadas dos
registrados oficiais.
Conectando o fim da escravidão no Brasil com personalidades como Tebas, um negro escravo que é um dos responsáveis pelos marcos históricos da arquitetura na cidade de São Paulo. Citando Machado de Assis e como o samba criado por negros e mestiços nas periferias ganhou o mundo e deu uma identidade ao Brasil. Mas levou certo tempo para cativar as elites no país. Algo semelhante que ocorre com rap atualmente. Em sua narrativa sobre artistas e personalidades negras, Emicida diz que eles foram os responsáveis pela cultura no Brasil.
Abdias Nascimento, Luiz Gama, Candeia e Ruth de Souza são lembrados por Emicida como heróis esquecidos da nossa história. A veredora Marielle Franco também é citada. E as conectando com as canções e deixando seu recado de inclusão. Não importando a cor da pele, identidade de gênero, orientação sexual e classe social. Onde o amor abre portas, sendo um abraço caloroso contra o preconceito. Junto a um tributo às verdadeiras amizades com “Quem Tem Um Amigo (Tem Tudo)”, dedicada ao baterista Wilson das Neves.
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