Orson Welles sempre foi uma figura contestada no meio cinematográfico. Seja pelo seu modo peculiar em lidar com as pessoas, no caso sua excentricidade, ou pela megalomania em seus projetos. Por isso colecionou inimizades e mesmo assim conseguiu deixar sua marca. Onde deu significado ao termo “cinema de autor”. Onde sua obra se confunde com a própria vida. O maior exemplo disso é “Cidadão Kane” de 1941. Vindo do teatro e do rádio onde já era considerado um dos grandes nomes do entretenimento.
Agora se aventurando na sétima arte com “Cidadão Kane”, seu primeiro filme, e muito se fala sobre os bastidores de sua produção. Em especial a relação conflituosa entre Orson e o roteirista Herman Mankievicz, contratado para dar uma lapidada no conto. Os dois se basearam na vida de William Hearst, que foi um dos maiores empresários das comunicações nos EUA. Bem como citações a Grande Depressão, que derrubou a economia na terra do tio Sam em 1929, e como Hollywood sobreviveu à Segunda Guerra Mundial.
Este relacionamento é um dos temas do novo filme de David Fincher, dos thrillers “Se7en: Os Sete Pecados Capitais (1995)” e “Garota Exemplar (2014)”, “Mank (2020)”. Produzido ao lado do canal das redes sociais Netflix, com quem trabalhou recentemente nas series “House of Cards (2013 a 2018)” e “Mindhunter (2017 a 2019)” e que confiou nele para finalmente levar este projeto adiante. Bastante pessoal para Fincher, já que o roteiro foi escrito pelo seu pai, o jornalista Jack Fincher. Este veio a falecer em 2003. Um filme ambicioso, que demorou vir à tona por causa da insistência de David para filma-lo em Preto & Branco.
Para ser Herman temos Gary Oldman (Oscar de Melhor Ator por “O Destino de uma Nação, 2017”), um profissional renomado que aparenta estar bêbado quase o tempo todo e bastante fora do peso ideal. Ele está sempre envolto com a alta sociedade da época como o dono dos estúdios MGM Louis B. Mayer, feito por Arliss Howard, e o biografado Hearst, interpretado por Charles Dance (o Tywin Lannister de “Game of Thrones”).
Herman é chamado para preparar o roteiro e tem 60 dias para fazê-lo. Entre idas e vindas vemos como funciona Hollywood nas sombras. A manipulação de informações e imagem, ficando a mercê de homens sem escrúpulos. Onde a magia do cinema funciona como “A Grande Ilusão”. A fantasia por detrás de algo que está fora do alcance do cidadão comum. Fincher é um hábil cineasta como fez no drama sobre o Facebook, “A Rede Social (2010)”. Deixando bem claro, a verdadeira facete da “cidade dos sonhos”.
Seu olhar apurado destaca a bela reconstituição daqueles tempos em Hollywood ressaltada pelo excepcional trabalho do diretor de fotografia Erik Messerschmidt, com quem trabalhou em “Mindhunter”. Junto a isso, Amanda Seyfield (da franquia musical “Mamma Mia”) está perfeita como Marion Davies, uma atriz de médio porte, casada com Hearst. Completando o elenco temos Lily Collins (da serie Netflix “Emily em Paris desde 2020”) faz a datilografa de Mank,Rita Alexander, e Tom Burke como Orson Welles.
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