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O encontro de três gerações no documentário "À TODO VOLUME"

O que seria do rock’n’roll sem as seis cordas de uma guitarra? Dá para imaginar, que não teríamos gênios como Jimi Hendrix, Eric Clapton, Pete Townshend, Keith Richards, Chuck Berry, B.B. King, Buddy Guy, Jeff Beck, George Harrison e assim por diante. E como eles influenciariam outros grandes nomes da nossa terra brasilis como Faiska, Sérgio Dias Baptista, Celso Blues Boy, André Christovam, Herbert Vianna, Sérgio Hinds, Frejat e os saudosos Wander Taffo & Hélcio Aguirra. Sua origem é desconhecida, há dados que indicam sua existência pelo menos há cinco mil anos com instrumentos similares na Ásia Central.

Desde então sofreu mutações até chegar no formato que bem conhecemos. Assim temos o documentário “À Todo Volume (It Mights Get Loud, 2008)”. Idealizado e produzido por Thomas Tull, coube a David Guggenheim (Vencedor do Oscar para Melhor Documentário por “Uma Verdade Inconveniente, 2007”) trazer o que este pensa sobre este instrumento que revolucionou o mundo da música. Ao contrário do que parece, não é apenas um registro histórico sobre a guitarra e sim, um atestado como ela trouxe à tona os talentos de Jimmy Page (Led Zeppelin), The Edge (U2) e Jack White (hoje Jack White III). Onde cada um dá seu ponto de vista sobre ela e como isso mudou o rumo de suas vidas.

Logo na abertura, já somos pegos de surpresa com Jack construindo uma guitarra com um pedaço de arrame, madeira, pregos, martelo e uma garrafa de vidro de Coca-Cola. Num instante, ele termina e diz: “Quem disse que não se pode montar uma guitarra?”. Assim somos apresentados aos guitar heroes como ele, The Edge e Jimmy Page. Eles estão saindo de seus lares com rumo ao galpão para o encontro de titãs. Durante o percurso, relembram as próprias histórias como a guitarra se tornou parte deles e a música, seu estilo de vida.

É interessante ver e ouvir Page contar um pouco da sua própria história. Já que não há documentos oficiais como uma biografia sobre isso. Ele fala abertamente seu começo como musico em uma banda de Skiffle (folk music com pitadas de jazz e blues). Mais tarde entrando para os Yardbirds e formando o Led Zeppelin. Relata seu espanto ao ouvir “Rumble” de Link Wray e como isso o impulsionou. Onde inclusive faz o movimento “Air Guitar”. E ver sua vasta coleção de vinis e compactos de sete polegadas é de cair o queixo.

Enquanto isso, The Edge está em sua cidade natal Dublin. Relembra como o U2 se formou através de um anuncio no painel da escola em que estudava. Ele foi feito pelo batera Larry Mullen Jr. E como o punk rock representado por Ramones, The Clash e The Jam o influenciaram. Junto a isso, ouvimos as primeiras demos do U2 e os outakes do mítico álbum “The Joshua Tree (1987)”. Onde ele explica a origem do riff e os efeitos da guitarra em “Where The Streets Have No Name”. Em sua morada, vemos a monstruosa pedaleira que é usada nos shows da banda. The Edge aproveita o momento para explicar seu fascínio por tecnologia e como ela o ajuda a criar novos sons em sua guitarra. Seja em casa e/ou no estúdio de gravação. Ex: “Elevation” e “Get on your Boots”.

Jack prefere algo mais orgânico. Avesso a novas tecnologias, por achar que isso tira o “instinto natural” do músico. Ele é mais “à moda antiga”. Onde diz que a influência de velhos mestres do blues como Robert Johnson, Blind Willie Johnson e Son House foram determinantes para sua formação musical. Antes de se tornar quem é hoje, morou num bairro pobre e de predominância negra em sua cidade natal, Detroit. Lá era discriminado por causa da sua guitarra, já que lá a sonoridade estava mais voltada ao hip-hop e a música eletrônica. Mesmo assim, se fez presente e seguiu em frente com suas convicções. 

Formou seu primeiro grupo The Upholsterers e assim foi um pulo para o duo The White Stripes com Meg White e o supergrupo The Raconteurs.Cada um possui um método para compor. Jimmy é mais instintivo, a ideia e a melodia surgem de forma natural em determinado momento. Edge toca riffs ao ar livre e depois os mostra para Bono, Adam e Larry. Foi incentivado pelo primeiro a compor a partir do álbum “War (1982)”. Já White gosta de guitarras tortas e desafinadas, se sente desafiado por elas. Assim tem o  estimulo necessário para compor. Senão construí uma para se inspirar. Como bem vimos no começo do documentário.

Daí temos um dos melhores momentos de “À Todo Volume”. Page está de volta ao casarão, onde o Led Zeppelin gravou seu quarto disco, o mundialmente conhecido “Led Zeppelin IV (1971)”. Relembra os momentos que estiveram por lá, como a entrada da sala onde foi gravada a bateria da canção “When The Levee Breaks”. Do lado de fora, ele toca em seu bandolim, “The Battle of Evermore”. Chegamos ao ato final com os três juntos. Trocam ideias e experiências, onde Jimmy mostra como toca “Whole Lotta Love” com os olhares atentos de Jack e Edge. É visível a emoção deles ao presenciar isso. 

Edge toca “I Will Follow” e White nos brinda com “Dead Lives and the Dirty Ground”, dando um show no bottleneck. A espera jam entre eles acontece com “In  My Time of Dying” e “The Weight” da The Band, esta tocada na integra para encerrar os trabalhos. O saldo finalmente é extremamente positivo, pois temos um testemunho histórico sobre o encontro de três gerações do mundo do rock. Jimmy abrindo o caminho para aqueles que desejam ser como ele. The Edge trazendo o experimentalismo ao instrumento de seis cordas (Ex: “The Unforgettable Fire, 1984” e “Achtung Baby, 1991)”. Com Jack liderando uma nova leva de Guitarristas, tendo como referência, a tradição de mestres do blues como os mencionados anteriormente (Ex: The White Stripes, "Elephant, 2003" e o disco solo "Blunderbuss, 2012").


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