O conceito de família na sétima arte se confunde com a vida real. Muitos cineastas pegam emprestado um fato que aconteceu nas próprias vidas para criar algo. Um exemplo recente é a comedia familiar “De Repente Uma Família (2018)”. Quando o diretor e roteirista Sean Anders (da franquia “Pai em Dose Dupla”) resolveu contar como foi o processo de adoção de seus três filhos ao lado da esposa Beth. Para saber mais no link: https://cyroay72.blogspot.com/2018/12/de-repente-uma-familia-com-mark-wahlbeg.html
Assim chegamos no segundo filme da cineasta chinesa Lulu Wang, que abriu seu coração, no autoral “A Despedida (The Farewell, 2019)”. Ele não chegou a ser exibido nas salas de cinema de nossa terra tupiniquim, estando disponível em plataformas digitais. Ela nos traz a história de sua avó (Nai Nai, no dialeto chinês) que recebe o diagnóstico de um câncer terminal e tem poucos meses de vida. Como é de costume na China, os familiares não falam sobre isso com seu parente, apenas o informam em seu último dia de vida. Para poder reunir todos e se despedir, inventam o casamento falso do neto dela.
Para ser personificar Wang temos a comediante Awkwafina (de “Oito Mulheres & Um Segredo, 2018”). Ela ganha o nome de Billi, aspirante a escritora, que se mudou para os Estados Unidos quando criança com os pais Haiyan (Tzi Ma, o vilão Chen Zhi do seriado televisivo “24 Horas, 2001 a 2010, 2014”) e Jian (Diana Lin). Apesar da distância, Billi sempre manteve com contato com Nai Nai, feita por Zhao Shuzhen. Arrasada com a notícia, ela se incomoda com a tradição de seu país e prefere contar toda a verdade. Impedida por seus pais que marcam viagem de retorno, ela fica nos EUA a contragosto. Apesar dos problemas financeiros e não conseguindo sua bolsa para a universidade, parte para a China sem que ninguém sabia.
Chegando lá, surpreende a todos e em especial, Nai Nai. Temerosos, porque Billi não sabe esconder um segredo. Por ser muito autentica em seus sentimentos. Mesmo fazendo caras e bocas, consegue disfarçar. Nai Nai estranha, mas entende que pode ser fome e cansaço pela longa viagem. Enquanto isso, a matriarca da família prepara o “casamento” do neto com todo fervor e disposição que lhe é peculiar. Bastante ativa e sempre de bom humor, ela leva sua vida simples com leveza e alegria. Assim temos a trama inicial de “A Despedida”. Que é totalmente falado em mandarim, a exceção feita nos diálogos entre Billi e seus pais.
Lulu nos traz uma história comovente sem ser piegas, como é comum neste gênero cinematográfico. A dor da perda é substituída pelo conflito de gerações e costumes de um país em constante transformação como a China. De um lado temos Nai Nai, que segue o modelo matriarcal para liderar sua família, onde todos a respeitam e sua palavra é a final em todos os assuntos. Já Billi é o contraponto perfeito. Vivendo fora do país a muito tempo, tem dificuldades de entender como uma velha tradição pode conflitar com seus sentimentos. Zhao e Awkwafina representam bem isso. Em especial, a segunda. Que consegue conter seus trejeitos para uma atuação contida e profundamente emocional.
Colocando na medida certa, a dor por não ser sincera com Nai Nai e momentos de descontração com a mesma. Wang também exibe o contraste por aqueles que vivem dentro e fora da China. Haiyan mora em Nova York e seu irmão no Japão. A distinção de morte varia tanto no Ocidente como no Oriente. Bem como se comunicar com seu parente sobre o assunto. A própria diretora viveu isso de perto. Assim temos uma película que toca fundo nos corações das pessoas, mas com a sutileza necessária para não sairmos ao final tristes e sim, esperançosos.
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