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A "MEGALÓPOLIS" de Francis Ford Coppola

O cinema é considerado a sétima arte por vários motivos. Seja por uma obra autoral em que o cineasta impõe sua visão sobre o que é cinema, ou seja por adaptações de livros, peças teatrais. Onde neste temos uma ideia de quem é o realizador da relativa obra. Podemos incluir Francis Ford Coppola nas duas categorias. Conhecido pelo seu estilo único e visão bastante pessoal em ser um realizador de filmes. Ele realizou a trilogia “O Poderoso Chefão” baseada na obra de Mario Puzo e mesmo assim não ficou preso às rédeas da trama criada por seu autor. Sua origem italiana falou mais alto, além de visionário. Ciente das operações da máfia italiana, tanto nos EUA quanto na terra da bota. Coppola trouxe um ar familiar, em especial na relação entre Michael Corleone e seu pai, Don Vito Corleone. Uma reflexão da própria relação com o pai Carmine Coppola. O musico compôs a trilha musical da trilogia ao lado do mito Nino Rota.

Sua visão sobre a guerra do Vietnã se baseou na obra de Joseph Conrad, “Coração das Trevas”, e nos trouxe o épico “Apocalypse Now” em 1979. Que consumiu cinco anos da sua vida e toda fortuna. Ele não ficou satisfeito com seu corte final e lançou novas versões em 2001 chamada “Apocalypse Now Redux” e em 2020, “Apocalypse Now: The Final Cut”. Esta. considerada por ele, sua versão definitiva. Comentamos no link: https://cyroay72.blogspot.com/2020/11/a-versao-definitiva-do-classico.html. Passados 13 anos desde o terror “Virginia (https://cyroay72.blogspot.com/2014/01/a-virginia-de-francis-ford-coppola.html), Francis está de volta com “Megalópolis (2024)”.

Uma obra que levou 40 anos para ser concretizada. De acordo com o próprio, sua concepção foi um dos trabalhos mais difíceis da sua carreira. Além de empreender o próprio dinheiro na produção. Isso sim é cinema independente e de autor. Coppola nos traz a sociedade utópica na cidade Nova Roma, onde o arquiteto Cesar Catilina, vivido por Adam Driver (o Kylo Ren da saga Star Wars), quer renovar toda paisagem da cidade. Para algo futurista e esplendoroso, mas tem um empecilho no seu caminho. O prefeito da cidade, Francis “Frank” Cicero, com Giancarlo Esposito (o implacável Gus Fring de “Breaking Bad”, 2008 a 2013) no papel. Ambos possuem rancor um pelo outro.

Na sua juventude, Cesar era um arquiteto promissor e sua esposa Sunny Hope (Haley Sims) foi dada como desaparecida. As suspeitas recaíram sobre ele e um possível assassinato que não se comprovou. O promotor do caso era Cicero, sempre acreditou que Cesar a matou. O tempo passou, Cicero se tornou prefeito e Cesar é o responsável pela secretaria de arquitetura de Nova Roma. Uma pessoa a frente do seu tempo, criou o Megalon. Um artefato capaz de criar as mais diversas formas e de curar feridas expostas em nossos corpos. Por isso, ganhou prêmio Nobel. Num encontro organizado com a alta classe de Nova Roma, Cicero anuncia a reforma do prédio central que se tornará um cassino para diversão de todos. No caso, os mais afortunados.

Uma sociedade privilegia os mais ricos e pessoas fazem parte deste círculo fechado. A população em geral, vive na miséria. Cesar tem o poder de parar o tempo à sua volta. Assim vislumbra seus pensamentos para tornar Nova Roma, a nova capital mundial. Em meio a isso, conhece a filha de seu rival, Julia (Nathalie Emmanuel). Ela se resguarda por causa do pai, mas a paixão surge entre os dois. Ao mesmo tempo, Cesar descobre que seu poder é ampliado com a presença de Julia. Como não poderia ser diferente, seus inimigos estão próximos. Como o primo Clodio Putcher (o filho de Indy, Shia LeBeouf) que busca modos para destruí-lo e sua amante, a repórter Wow Platinum (Audrey Plaza de “The White Lotus”), desiludida quer se vingar dele.

Seus poucos aliados são o motorista e assistente pessoal Fundi Romane (o eterno Morpheus Laurence Fishburne); o tio Hamilton Crassus III, feito pelo veterano ator Jon Voight, que é dono do principal banco da cidade; e sua mãe Constance Crassus Catilina, interpretada pela irmã de Francis Talia Shire. Assim temos a trama escrita por Coppola ao melhor estilo tragédia romana com a escrita de William Shakespeare. Onde o perigo surge mais próximo do que imagina. E ao mesmo tempo, exibindo a pegada sócio-política do cineasta. Uma utopia dos novos tempos presa ao passado. O cenário de um presente disfuncional, com direito a um futuro sombrio e incerto.

Coppola reflete sobre o atual momento mundial, onde os extremismos estão ascendendo. Exemplo recente nos EUA e um pouco em nossa terra braslis com as eleições municipais. Bem como a diferença entre classes sociais. O personagem de Shia é o melhor exemplo. Que se aproveita que os mais humildes não gostam do prefeito e detestam seu primo. Ele se apresenta com a solução dos mais carentes. Se você pensou no insano Donald Trump, não foi o único. E a persona de Cesar como uma pessoa egocêntrica e sem limites. Para concretizar suas visões, passar cima de tudo e de todos. Somente na presença de Julia, exibe seu lado mais humano. No caso, uma fragilidade que não lhe é característica. Isso só foi visto até então, quando está ao lado da mãe, o sentimento de amor e ódio aflora. Complexo de Édipo se faz presente.

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