O quieto e eterno cara amarrada Noel Gallagher sempre deixou bem claro que os quatro rapazes de Liverpool foram sua maior referência musical. O Oasis, a banda formada com o irmão e garoto enxaqueca do rock Liam Gallagher, é a prova disso. Poucos devem saber que outro grupo foi uma grande influência para os Gallagher no mundo da música. Estamos falando do Stones Roses, do vocalista Ian Brown e o guitarrista John Squire. As duas bandas são originarias de Manchester (Inglaterra). De certo modo, o grupo moldou a sonoridade das bandas da terra do agora Rei Charles no final dos anos 80 e início dos 90. O chamado BritPop, eles encerram as atividades após o segundo álbum “Second Coming” em 1994. Ian seguiu em carreira solo e John montou o Seahorses. Sem o mesmo sucesso de outrora, deixou a música e se tornou artista plástico.
Retomou o instrumento em 2011 com uma turnê que marcou o retorno da banda que perdurou até 2017 e em 2019, Squire decretou o fim oficial dos Stones Roses. Voltando ao atelier de pintura até receber o convite de Liam para gravarem um álbum. Os dois já haviam tocado juntos no antológico show de 1996 do Oasis em Knebworth e repetiram a dose em 2022, quando Liam retornou à cidade. Nas duas oportunidades, tocaram a clássica “Champagne Supernova”. Daí surge “Liam Gallagher & John Squire (2024)”. São dez canções que nos remetem a um passado não tão distante quanto aparenta. Uma viagem musical pela pelo som psicodélico, somado à experiência de ambos do que já fizeram anteriormente.
Além do que há de melhor no rock anos 70. O que poderia ser um revival ao Oasis ou mesmo a retomada dos Stones Roses, já que estes nunca lançaram o sonhado terceiro disco. Squire até reflete sobre isso: “ninguém queria fazer isso, então acabou não sendo tão frustrante assim”. E completou dizendo que não estava satisfeito com seu modo operantes nas seis cordas da sua guitarra, seria um estilo mais “comedido e respeitoso”. Quando gravou “Second Coming” demonstrou certa intensidade e se arrependeu por isso. Palavras do próprio. Voltando à parceria com Liam, ele diz que está bem à vontade. Como já tocaram antes, exibe uma cumplicidade. Principalmente nos passam a sensação que estão se divertindo. Produzido por Greg Kurstin, que trabalhou com Liam em seu ultimo álbum “C’mon You Know (2022)”, também assumiu o contrabaixo na empreitada.
Eles são acompanhados pelo virtuoso musico de estúdio, o batera Joey Waronker. Que já tocou com Beck, R.E.M. e no projeto Atoms For Peace de Thom Yorke, líder do Radiohead. Com a banda apresentada, vamos ao som vigoroso da canção de abertura “Raise Your Hands” com ares da fase Oasis em “(What’s The Story) Morning Glory (1995)”. Seguida de “Mars to Liverpool”, uma deliciosa canção que nos leva a uma viagem no tempo aos melhores anos do BritPop. Com solo inspiradíssimo de Squire. Já “One Day At Time”, surge acústica para logo em seguida se transformar numa pungente canção e lembrando a essência da musica britânica. Em especial os anos 60. “I’m A Wheel” é um blues sujo.
Surpreende como a voz de Liam se encaixa ao gênero e trazendo na memoria o grupo The Yardbirds, embrião do Led Zeppelin. Mais uma vez, John exibe seu apuro técnico. “Just Another Rainbow” foi o primeiro single. É a canção que mais lembra os grupos de Liam e John. Um misto entre o melhor do Oasis e do Stone Roses. Puro BritPop de primeira com ares psicodélicos. “Love You Forever” é a canção que remete ao movimento flower power. Cheia de efeitos, é pura psicodelia. “Make it Up As You Go Along” evoca os Rolling Stones nos anos 60, uma agridoce canção pop rock. “You’re Not The Only One” é pulsante e puro rock’n’roll. “I’m Bored” é rápida e o riff de Squire marcando seu andamento.
Fechando os trabalhos temos a delicada balada “Mother Nature’s Song”. Nas palavras de Liam, ela entraria fácil em qualquer disco de John Lennon. Este é seu beatle favorito e maior ídolo. O saldo final é positivo, o encontro de dois titãs do rock inglês. Indo além do que já fizeram em seus respectivos grupos e trazendo um dos melhores discos de 2024. Canções com muita melodia de qualidade. Bastante influenciado pelo o que já foi feito nos anos 60 e 70 musicalmente falando. Deixando claramente para aqueles que dizem o rock’n’roll está morto. Aqui ele dá sinais de vida longa e prospera.
Comentários
Postar um comentário