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O Conto Real, "ASSASSINOS DA LUA DAS FLORES", por Martin Scorsese

Martin Scorsese refletiu em uma entrevista dada em 2011 sobre o que faria depois de ter realizado “Taxi Driver (1976)”, “O Touro Indomável (1980)”, “Bons Companheiros (1990)”, “O Aviador (2004)” e “Os Infiltrados (2006)”. Indagou sobre um filme para crianças e que não estaria disposto a fazê-lo por querer experimentar outros gêneros. Ledo engano, tivemos a fantasia infanto-juvenil “A Invenção de Hugo Cabret” no mesmo ano. Scorsese sempre transitou por exibir a cruel realidade urbana das cidades e ao mesmo tempo, pincelar obras que refletem a espiritualidade das pessoas como em “Kundun (1997)” e “Silencio (2019)”. Agora ele nos traz o conto verídico “Assassinos da Lua das Flores (Killers of the Flower Moon, 2023)”. Baseado no romance de mesmo nome escrito por David Grann, que relata mortes misteriosas na comunidade indígena Osage e a intrínseca conexão deles com o homem branco nos anos 20.

Neste caso, donos de fazenda, de gado locais e banqueiros. Nas terras dos Osage foi descoberto petróleo e por isso enriqueceram. A investigação dos assassinatos impulsionou a criação do FBI por J Edgar Hoover. Perceberam que o modo operandis do ocorrido chama atenção. Cada indígena morto, tinham suas posses herdadas pelos filhos e esposos. Com um porem, homens e mulheres brancas. Isso fez com que Scorsese juntamente com Leonardo Di Caprio nos trouxessem essa impactante história. Além de produzirem, Di Caprio é Ernest Burkhart, recém-chegado da Primeira Guerra que veio trabalhar para o tio, William “King Bill” Hale. Este interpretado por Robert De Niro. Pela primeira vez, os três trabalham juntos. Martin & Leo fizeram até agora sete filmes. Já De Niro & Scorsese somam dez. E Robert & Leo atuaram no drama “O Despertar de um Homem” em 1993.

Ernest trabalhando como motorista, transporta a indígena Mollie (Lily Gladstone) para a casa dela. Acaba a levando para suas atividades diárias. Ir ao banco e consultas medicas, por exemplo. Os dois se aproximam e isso faz com que King Bill aconselhe o sobrinho a corteja-la. Para futuramente se casarem, pois precisa pensar no seu futuro. Quando ele está pensando nos próprios interesses. Bill sempre ambicionou as terras Osage para si. Por isso, manteve boas relações com a comunidade indígena, além ser respeitado e influente politicamente na cidade de Fairfax. Um jogo de interesses que vitimou o povo Osage, pessoas como Hale e Burkhart tiveram seus destinos selados. Assim temos o mote inicial de “Assassinos da Lua das Flores”, onde Scorsese traz o passo a passo dos planos de Hale e posteriormente desmascarado pela investigação do agente FBI Tom White (Jesse Plemons) e o agente infiltrado John Wren (Tatanka Means). A perspectiva de Ernest sobre o fato é a tônica da trama.

O que de início, parecia ser um casamento arranjado. Com o passar do tempo, Ernest e Mollie realmente se apaixonam um pelo outro. Além do conflito interno do primeiro, o amor entre os dois e a fidelidade incondicional ao tio. Leo transparece isso muito bem. Uma certa ingenuidade e estupidez. Além da ótima interação em cena com Lily. Esta é uma força da natureza, exibe a fragilidade da personagem por causa da diabetes. E mantendo suas convicções para descobrir quem assassinou suas irmãs e a tradição Osage. Já que é a última descendente de sangue puro. De Niro está simplesmente espetacular. Como há muito tempo, não o vimos. Transparece uma pessoa com boas intenções, quando verdade é contrário. Manipulando as pessoas no seu entorno, para conseguir o que deseja. 

Exterminar os Osage e ficar com suas terras em definitivo. Não medindo esforços como a amizade com o índio Henry (William Belleau) que sofre de depressão e alcoolismo. Com o auxílio de Ernest e um capacho, forjam a morte de Henry como suicídio. Já que Bill o convenceu a passar suas propriedades, caso faleça. Sem que sua imagem como uma pessoa índole não seja manchada. Martin aproveita para quebrar o estereotipo do caubói infalível e a destruição dos povos originários na terra do tio Sam. O homem branco inescrupuloso passar por cima de tudo e de todos para obter o que almeja. Bem representado pelo personagem de De Niro

Além da desconstrução do sonho americano, o homem comum sem esperança e vivendo abaixo do que imaginou para si. Dando protagonismo a Mollie e ao povo Osage, que prosperou e pagou um preço muito alto. Seu extermínio e a perda de suas tradições. Tecnicamente é uma película que enche os olhos. Os planos sequências na abertura que lembram os westerns de John Ford; o trabalho primoroso na edição da colaboradora de longa data de Scorsese, Thelma Shoonmaker; e o diretor de fotografia Rodrigo Prieto ao exibir tons pasteis quando estamos na presença de Bill. As cores vivas, diante dos Osage, como na cerimonia de casamento de Mollie e Ernest.


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