O que faz uma pessoa achar que está acima de tudo e de todos? Com essa questão em mente, lembramos do produtor e dono da Miramax Harvey Weinstein. Em outubro de 2017, em uma reportagem do The New York Times escrito pelas jornalistas Jodi Kantor e Megan Twohey, elas trouxeram à tona as atrocidades de Harvey nos bastidores da fama. Se aproveitando do seu status abusou sexualmente de funcionárias da própria produtora, além de atrizes que iniciavam sua carreira. No caso Rose McGowan, Ashley Judd e Gwyneth Paltrow. Isso mesmo, ela própria, a esposa de Tony Stark / Homem de Ferro no Universo Cinematográfico Marvel. Já McGowan chegou a denuncia-lo e ainda escreveu um livro a respeito do assedio, só que ninguém deu ouvidos.
A reportagem desmascarou Weinstein e ajudou a mudar as regras no ambiente de trabalho. Além de mostrar como o sistema ajudava os poderosos. Acobertando seus crimes e pior, fazendo acordos com as vítimas que eram obrigadas a se calarem. Iniciando o movimento “Me Too”, onde mulheres atacadas por produtores de Hollywood são denunciados, por exemplo. O nível das acusações à Weinstein chega a ser deplorável. Além do assedio, elas eram impossibilitadas de trabalhar, caso não realizassem seus desejos. Por isso, ele foi condenado a 23 anos de prisão e ainda sofre processos em Los Angeles e Londres. Assim chegamos a “Ela Disse (She Said, 2022)” dirigido por Maria Shrader e a reportagem foi adaptada por Rebecca Lenkiewicz, somada ao livro escrito por Kantor e Twohey, “Ela Disse: Os Bastidores da Reportagem Que Impulsionou o #Me Too (2019)”.
Jodi e Megan são feitas por Zoe Kazan e Carey Mulligan (de “Bela Vingança, 2020”) respectivamente. A primeira está escrevendo uma matéria sobre imigrantes em Nova York, já a segunda está fazendo um artigo sobre acusações de estupro ao então candidato à presidência Donald Trump. Apesar disso, ele foi eleito como você bem sabe. Ao mesmo tempo, Megan tem uma filha. Passado certo tempo, Jodi está averiguando informações sobre Weinstein. No caso, acusações de assedio por parte de atrizes e ex-funcionárias da Miramax. Chega a conversar com Rose McGowan, que a alerta que ele já está sabendo da reportagem. Pedindo auxilio a Megan, que tem experiência no assunto.
Ainda está com sintomas da depressão e tendo crises de ansiedade. Com o trabalho, ela acredita que vai superar essa fase. Juntas, vão a campo e conversar com as vítimas de Harvey. Elas se recusam a falar de início. Mais tarde, descobrem que as mesmas assinaram um contrato que não podem falar sobre o assunto, já que foram indenizadas financeiramente. Assim, as duas buscam por outras testemunhas para que possam corroborar a reportagem. Daí o mote inicial de “Ela Disse”. Schrader nos mostra como uma rede conectada aos altos escalões do poder protegem os mais afortunados. Neste caso, Harvey.
Por seu status no cinema e na alta sociedade com a Miramax, o possibilitaram a criar uma sensação de imunidade entorno de si. Já que tinha dinheiro e posição para manter isso. Respaldado por um grupo dos melhores advogados da terra do tio Sam, acreditava que nunca seria pego. O que se provou o contrário com a investigação a fundo de Kantor e Twohey. Conversando diretamente com cada uma que sofreu com as investidas de Weinstein. Destaque para Samantha Morton e Jennifer Ehle como Zelda Perkins e Laura Madden respectivamente. A primeira (Molly Windsor) estava ciente dos hábitos de Harvey, tentou proteger em vão a amiga Rowena Chiu (Angela Yeoh). Quando eram assistentes de produção em Londres. Já a segunda, foi uma das suas vítimas iniciais.
Exemplificada na eloquente sequência de abertura da película, quando a personagem era uma jovem de 21 anos (Lola Petticrew). A própria Ashley Judd viveu a si mesma e deu ainda mais credibilidade ao conto. Zoe e Carey estão excepcionais em seus papeis. Kazan tendo que se dividir para cuidar da família e se manter firme com os relatos das mulheres atacadas por Weinstein. Mulligan exibe a força de Twohey ao se recuperar emocionalmente e continuar em frente com suas convicções. Completam o elenco Andre Braugher (o capitão Raymond Holt da sitcom “Brooklyn Nine-Nine, 2013 a 2021) como o editor Dean Baquet e a veterana Patricia Clarkson é a chefe de redação Rebecca Corbett.
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