A cena Rap da cidade de São Paulo é o que é hoje graças ao grupo Racionais MC. Formado por Mano Brown, Ice Blue, KL Jay e Edi Rock, se tornaram a voz da periferia na cidade de São Paulo. Brown e Ice vindos do Capão Redondo (zona Sul), KL e Edi eram moradores da zona Norte da cidade. Se unem e mostram a realidade de onde viviam no começo da carreira. Os extremos se unem, de uma ponta a outra literalmente. A reunião da tribo na estação do metrô São Bento e as Grandes Galerias no centro, possibilitaram o encontro dos quatro.
Saindo do gueto e ganhando notoriedade por toda cidade e se tornando a referência que bem conhecemos nos dias de hoje. Produzido pelo canal das redes sociais Netflix e dirigido por Juliana Vicente, ela nos traz um retrato honesto e sincero sobre o grupo. Com os próprios contam sua história. Juntos ou em separado, cada um traz seu ponto de vista sobre o começo difícil, os atos e baixos e até chegarem ao reconhecimento mundial. Brown relembra os tempos em que trabalhava em uma loja de departamentos e nos intervalos, escrevia as letras que um dia o tornariam famoso.
Já KL era office boy no centro de São Paulo, isso ocorre no início dos anos 80. O intuito deles não era somente ganhar dinheiro com a música. E sim mostrar a realidade do cotidiano que viviam em seus respectivos bairros. Mano relembra: “Naquela época, no Capão, só tinha lama e tiro”. Recheado por imagens do arquivo pessoal dos quatro, o conto da banda ganha mais veracidade. As primeiras apresentações com o público pequeno que foi crescendo com o passar do tempo.
O impacto de suas canções. Mesmo com letras longas, elas são entoadas pelos fãs. Isso rende um dos melhores momentos do documentário, é quando os próprios cantam “Fim de Semana no Parque” por um longo tempo. Isso ocorreu num show em cima de uma laje e os ônibus do bairro passando ao fundo. Emoção vai à flor da pele literalmente. Que rola na sua integra. Juliana foi muito perspicaz em mantê-lo como foi gravado originalmente. Brown é muito crítico a si próprio, ao fazer um balanço das suas primeiras composições, quando jovem.
Se diz “ainda cabaço”. Ou Blue comentando sobre seus sonhos e o desejo de entrar em um restaurante com cabelo curto. São momentos que ficam registrados para a história pessoal de cada um deles. Trazendo outros que marcaram a carreira do grupo. Como a tensa apresentação na Virada Cultural na cidade de São Paulo em 2007, que resultou em confusão entre os presentes. Brigas, roubos e o fim antecipado do show. Bem como as premiações após cada álbum lançado que alcançou fama nacional. Canções como “Homem de Estrada” e “Diário de um Detento” ratificam isso. Exibem a força deles e se tornando a voz de uma comunidade que convive diariamente com o racismo e a luta contra a indiferença entre as classes sociais.
No caso, os mais pobres, aqueles que não conseguem colocar comida na mesa e/ou estudar para melhorarem de vida. Mano comenta: “O tipo de racismo que se vive no Brasil é o racismo que esvaziou o preto. Ele não deixou nem o ódio. Porque o ódio é um sentimento útil numa guerra. Uma coisa é você ter revolta. Outra coisa é você não ter nada”. O documentário é um balanço sobre os mais de 30 anos de carreira da banda e sua importância, não só na cena Rap da terra da garoa. Mas sim, na música brasileira como um todo.
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