Contos de fadas encantam a imaginação das pessoas. Desde pequeno até a fase adulta, eles nos marcam. Seja o conto da menina enfeitiçada por um sono eterno e só pode ser despertada por um beijo de amor verdadeiro em “A Bela Adormecida” ou a jovem princesa jurada de morte pela madrasta rainha que é protegida por pessoas pequenas em “Branca de Neve & Os Sete Anões”. Ou o menino de madeira que deseja ser alguém de carne e osso em “Pinóquio”. O empreendedor Walt Disney junto a sua equipe os adaptou para o cinema e se tornaram clássicos da sétima arte nos idos anos 40 e 50. Agora chegou a vez do visionário Guillermo Del Toro trazer seu olhar apurado para “Pinóquio (Pinocchio, 2022)”.
Produzido e disponível pelo canal das redes sociais Netflix, Del Toro ao invés de nos trazer o formato desenho animado e/ou fazer a versão live action com atores. Optou por uma arte meio que esquecida pelo cinema, o stop motion. Ao lado de Mark Gustafson, especialista nesta área, para juntos nos exibiremos uma nova perspectiva sobre o clássico literário de Carlo Collodi. Estamos no Itália fascista na década de 30, com o marceneiro Gepeto com voz de David Bradley (o mal-humorado Filch da saga Harry Potter), vivendo em seu vilarejo ao lado do filho Carlo (Gregory Mann). Esta uma homenagem de Del Toro & Gustafson ao autor do livro. Tudo segue tranquilamente na vida dos dois até que a guerra chega até eles. Gepeto está trabalhando na recriação em madeira de tamanho real da crucificação de Jesus Cristo.
Durante um ataque aéreo, a igreja é atingida e Carlo foi uma de suas vítimas. Gepeto amargurado vai todos os dias visitar o tumulo do filho. Bêbado e triste, resolve cortar a arvore que cresceu ao lado da sepultura e construir uma versão em madeira do filho. Para assim aplacar a dor da perda. Sem perceber que era a morada do grilo Sebastian, com o eterno cavaleiro jedi Ewan McGregor entoando sua voz. Como no original, ele é o narrador da história. Após construir o boneco de madeira, Gepeto desmaia embriagado. Eis que surge O Espirito da Madeira com Tilda Swinton (a Anciã do Universo Cinematográfico Marvel) na dublagem. Ela também representa “A Morte”. Dando vida ao boneco que ganha o nome de Pinóquio (Mann). Como missão, ele deve ajudar Gepeto a superar a perda de Carlo e preencher seu coração de amor e felicidade. Diz ao Grilo para orientá-lo a ser uma pessoa de bem. Ao fazer isso, terá direito a um desejo.
Ao acordar, Gepeto se assusta e de início não aceita a presença de Pinóquio. Após certo tempo e aconselhado pelo Grilo, vai se aproximando dele. A jornada dos dois está apenas começando e aí que temos a pegada característica de Del Toro se mesclando ao clássico da literatura. Tendo a base já criada, juntamente com Mark nos trazem um tom mais atual e real à trama. O discurso de extrema direita de Mussolini comparado aos dias de hoje. Como vemos em especial na Europa. Além da doutrina militar onde crianças são recrutadas para se tornarem soldados. Explorando a rebeldia de Pinóquio em querer saber de tudo e conhecer o mundo a sua volta.
Temos a fuga para o circo, com seu impiedoso dono Volpe (Christoph Waltz, Oscar de Melhor Ator Coadjuvante por “Bastardos Inglórios, 2009”) se aproveitando da imagem de Pinóquio para enriquecer. Ao lado deles, o macaco adestrado Spazzatura com a Rainha Cate Blanchett no papel. Somada ao sumiço de Gepeto e do grilo, presos dentro de um monstro marinho. Originalmente era uma baleia branco. Aqui vemos a pegada gótica de Del Toro, o ambiente recheado de sombras e escuridão que já fazem parte do seu repertorio. Aqui ele aproveita para estreitar a relação entre Gepeto e Pinóquio. Uma reflexão em que pai e filho apesar de suas diferenças de ideologia, se amam incondicionalmente. Somada ao inquebrável vinculo de amizade com Sebastian e posteriormente com Spazzatura.
Junto a isso, o desejo de Pinóquio em ser um menino de verdade ganha novos contornos. Apesar de ser de madeira, a sua essência é de uma pessoa como você e eu. Ou seja, sua alma. Isso é exemplificado na sequência final, para salvar Gepeto e seus amigos, abrindo mão da sua imortalidade. É alertado pela Morte (Swinton), mesmo assim o faz. Esta nova versão têm as participações especiais do para sempre Hellboy Ron Perlman como o oficial facista Podestà; Finn Wolfhard (o Mike de “Stranger Things”) é o filho de Podestà, Candlewick; e Tim Blake Nelson faz os coelhos negros que jogam cartas no covil da Morte.
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