Todos imaginam que separar a vida pessoal e a vida profissional é como ligar e desligar um botão ou simplesmente como dizem por aí, “virar a chavinha”. Como bons seres humanos que somos, temos nossas falhas e virtudes. E as vezes as duas vidas se confundem. Seja como amigos no trabalho que se tornam amigos que compartilham suas vidas fora dele ou quando há uma sintonia se tornam mais que amigos. Neste caso namoram ou se casam. Como essa premissa tivemos os aclamados seriados televisivos “The Offiice (2005 a 2013)” e “Parks and Recreation (2009 a 2015)”. Onde o ambiente dentro de um escritório é colocado em evidencia. Seja na sua rotina claustrofóbica entre quatro paredes e poucas janelas ao seu redor. Seja pelo o ambiente criado por seus funcionários internamente, sadio ou não.
Com essa premissa o jovem Dan Erickson nos trouxe uma das series que vem chamando atenção de público e crítica, “Ruptura (Severance, 2022)”. Produzida pela Apple TV+ e com direção de Ben Stiller (o vigia Larry Daley da franquia “Uma Noite no Museu”). Erickson pegando emprestado o ambiente de “The Office”, para nos trazer a empresa Lumon. Onde seus funcionários trabalham em seus respectivos departamentos, sem que haja qualquer tipo de interação entre eles. Neste caso, temos Mark (Adam Scott) recém promovido e se prepara em seu primeiro dia no novo cargo.
Ele supervisionará a equipe formada por Irving (John Turturro, o Carmine Falcone de “Batman, 2021”), Dylan (Zach Cherry) e a nova funcionaria Helly (Britt Lower). Esta preenche seu cargo antes da promoção, já que seu antecessor e amigo Petey (Yul Vasquez) se demitiu da empresa. Mark se encarrega de mostrar a ela como será seu trabalho. No caso, ficar de olho no sistema operacional da empresa. Evitando o vazamento de dados, que consiste em selecionar bolinhas o dia todo para logo em seguida serem deletadas. Ao que parece ser uma tarefa rotineira, se revela mais do que aparenta ser. Ao entrar na empresa, Mark ao guardar seus objetos pessoais no armário do vestiário, percebe-se algo inusitado. Deixa o celular, seu crachá de acesso e os sapatos.
E os trocando por um outro crachá e par de sapatos. Acessando o elevador que o direciona ao seu setor, sentimos que Mark está diferente. Focando somente na nova tarefa designada por sua chefa, Harmony (Patricia Arquette, Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante por “Boyhood: Da Infância à Juventude, 2014”). Rígida em seus princípios e fiel à Lumon, acredita que Mark cumprirá bem sua nova função. Já Helly questiona o ambiente em que trabalha, bem como seus colegas. Estes tentam apaziguá-la, mostrando que o setor é amistoso e tranquilo. Há inclusive uma festa de boas-vindas, com direito à foto da nova turma. Mesmo assim, ela sente que há algo de errado dentro da Lumon.
Após o expediente, todos estão de volta aos lares. Percebe-se que Mark não é o mesmo do escritório. Sozinho em sua casa, é chamado pela irmã Devon (Jen Tullock) e o cunhado Ricken (Michael Chernus) para um jantar entre amigos. Eles discutem o método de trabalho dentro da Lumon. Assim sabemos sobre o procedimento que Mark e seus colegas de trabalho se submeteram para serem admitidos pela empresa. Onde é inserido um chip próximo do cérebro e no momento que adentram no setor, esquecem sua vida pessoal e só possuem lembranças da vida dentro do escritório.
Ele é chamado “Ruptura”, que dá nome à série. Tanto que ao final do expediente, se cruzam no estacionamento e não se reconhecem. Mark é encontrado por Petey, que lhe diz ser seu melhor amigo na Lumon. Porém ele não se recorda disso. Já este tenta alerta-lo que sobre o expediente interno, envolvendo o alto escalão da firma. Após sua saída, isso ficou evidente para Petey. De início, Mark não acredita no que lhe diz. Com o passar do tempo, começa a duvidar da idoneidade da empresa em que trabalha. Ao mesmo tempo, Petey já não consegue destingir sua vida real e a dentro do escritório.
Entre idas e vindas temos a trama de “Ruptura”. Trazendo à tona o quanto o mundo corporativo influencia as pessoas que trabalham nele. Onde elas se sentem obrigadas a cumprir regras para serem admitidas. Qual é a legalidade desta ação? E como estão dispostos a cumpri-las? O que estamos abrindo mão e se isso é correto? Como isso interfere em nosso livre arbítrio. “Ruptura” tem um humor ácido para poucos, sendo crítica ao corporativismo. Erickson e Stiller inteligentemente apresentam os personagens com seus dilemas e certezas do que estão vivenciando. Acompanhando atentamente o que Mark fará a respeito para descobrir a verdade dos fatos. Num tom de suspense crescente com ares de thriller, ela pode chocar o espectador mais desatento.
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