Os bastidores de uma produção cinematográfico sempre encantou seu espectador. As peculiaridades de seu diretor, o ego inflamado de suas principais estrelas e a famosa “rádio peão” dos funcionários da produção. Desde o contra regra passando pelo iluminador e chegando ao diretor assistente. Filmes clássicos como “A Malvada (1950)”, “O Crepúsculo dos Deuses (1950)”, “Cantando na Chuva (1952)”, Uma Noite Americana (1975)” e “O Jogador (1992)”. Mais recentemente tivemos “Trumbo: Lista Negra (2015)” com o eterno mr. White Bryan Cranston e “Mank (2020)”com Gary Oldman. O cineasta francês Olivier Assayas resolveu recontar a própria história na série HBO “Irma Vep (2022)”.
Na verdade, é a refilmagem do filme homônimo de 1996 escrito e dirigido por ele. Baseado no clássico do cinema mudo francês “Les Vampires” de Louis Feuillade. Em formato de seriado, passou nas salas de cinema entre os anos de 1915 e 1916. Onde sua atriz principal interpreta a si mesmo e ao mesmo tempo, a personagem. Assim temos Alicia Vinkander, Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante por “A Garota Dinamarquesa (2015)”, como Mira Harberg. Uma estrela do cinema em ascensão, que está desgostosa com a própria carreira. Conhecida por estrelar grandes produções de Hollywood e sendo cogitada para atuar um filme no Universo Cinematográfico Marvel. Está em Paris, após aceitar o convite de Rene Vidal (Vincent Macaigne), criador da película, para ser Irma Vep.
Pois ele decidiu fazer uma nova versão do conto. Mira quer dar uma virada na carreira, ao mesmo tempo, esquecer a relação tempestuosa com sua antiga assistente, Laurie (Adria Arjona). Elas terminaram e logo em seguida, Laurie se casa com o jovem cineasta Herman Ray (Byron Bowers). Que por uma coincidência do destino, eles estão em Paris para curtir uma lua de mel em meio a divulgação do novo filme dele. Enquanto isso, Mira acompanhada de sua nova assistente, Regina (Devon Ross), se prepara para o início das filmagens da minissérie. Já René no set de filmagem, tem seus devaneios e discute constantemente com Edmond Lagrange (Vincent Lascote). Que vive um dos personagens principais, o detetive Philippe Guérande.
Ao mesmo tempo, passa por um motivo pessoal difícil,
pois como no velho ditado “A Vida Imita A
Arte”. Sua ex-esposa Jade Lee (Vivian
Wu) fez a personagem no filme que realizou nos anos 90. Até então, ele não superou
a separação. Ao mesmo tempo, tenta encontrar um equilíbrio entre sua
personalidade forte e volátil. Entre idas e vindas, “Irma Vep” traz os bastidores
de sua produção.
A assistente Carla, vivida por Nora Hamzawi, e a figurista Zoe, interpretada por Jeanne Balibar, exemplificam isso perfeitamente. Carla precisa cuidar dos caprichos dos atores da produção, como o excêntrico ator alemão Gottfried, com Lars Eldinger no papel. Este tem suas peculiaridades. Uso de drogas constantemente e é preciso vigia-lo de perto para que nada lhe aconteça. Já Zoe que cuida do vestuário para os atores na minissérie, pelo proximidade acaba ganhando sua confiança. Em especial de Mira, com quem desenvolve uma paixão platônica. É correspondida apenas como um sinal de amizade.
Aqui Assayas tem a oportunidade de aproximar o público da sua obra de 1996. Como uma minisserie voltada para o público das redes sociais. Ao mesmo tempo, atualizando o tema para algo mais universal. Uma jornada tão pessoal como a dele. Exibindo suas certezas, seus questionamentos, momentos de insanidade e abrindo sua alma como vemos no personagem muito bem encarnado por Macaigne. Como Vidal, Mira também cresce pessoalmente.
Se descobrindo como atriz, que precisa de desafios diários na carreira para seguir em frente. Interpreta Irma Vep, ao mesmo tempo, faz a atriz original do filme mudo Musidora, comprovando seu amadurecimento na frente das telas. Vinkander está excepcional no papel. Como estamos falando de cinema, a metalinguagem faz parte dele. Mira está tão incorporada ao papel, que se imagina como seu personagem. Em especial, quando veste o colante baseado na versão original de 1915. Como se fosse a Viúva Negra de Scarlett Johansson, caminha pelos tetos das casas em Paris e se infiltra nos hotéis da cidade.
Sem que sua presença seja notada. Por exemplo, para ver sua ex-amante Laurie invade o quarto do hotel em que ela está hospedada com Herman. Eles não percebem que ela está lá e rouba o colar de pedras preciosas que Laurie ganhou do esposo. Posteriormente vai até o apartamento de René para chama-lo de volta ao trabalho, pois precisa dele para continuar. Somada as imagens originais da película de 1915 com a refilmagem das mesmas. O encontro do cinema mudo e a mais moderna tecnologia da sétima arte, pura poesia cinematográfica.
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