A adaptação de um clássico da literatura para a tela grande do cinema nem sempre é uma das tarefas mais fáceis. Como maior exemplo temos a Saga do Anel “Senhor dos Anéis” de Peter Jackson que trouxe o mundo fantástico criado por J.R.R. Tolkien para a sétima arte. Para muitos “entendidos”, o conto era considerado impossível de ser adaptado, por sua riqueza de detalhes. Jackson provou o contrário, conseguiu introduzir o imaginário de Tolkien e assim temos uma das maiores sagas da sétima arte.
Como isso dito, chegou a clássica história scifi “Duna (1965)” de Frank Herbert. É romance do gênero mais vendido de todos os tempos, sendo uma série de seis livros. Aqui vemos um universo formado por casas, no melhor estilo feudal. No caso temos seu regente, o Imperador Shaddam IV da Casa Corrino. Ao seu lado, a Casa Atreides liderado pelo duque Leto Atreides e a Casa Harkonnen com o implacável barão Vladimir Harkonnen à frente. Se você imaginou “Game of Thrones”, não foi o único. Entre eles há uma disputa velada pelo planeta Arrakis.
Um planeta desértico que é chamada de “Duna”, que possui algo que lhes é de muito valor, “A Especiaria”. Com ela, é possível a viagem interestelar pela galáxia. Quem domina Arrakis, tem o controle de tudo e de todos. Só há um problema: seus habitantes, os “Fremen”. Vivem justamente no meio do deserto, onde é extraída a “Especiaria”. Os conflitos com os Harkonnen, que estão lá a mais de 80 anos, são frequentes. Eles instauraram uma ditadura que escraviza o povo local, ao mesmo tempo, causam desconforto com sua presença. Os “Fremen” consideram a “Especiaria” algo sagrado. Que eleva o espirito e os aproximam dos Vermes de Areia, seres gigantescos considerados como Deuses por eles. Shaddam IV decreta que os Harkonnen devem passar o comando de Arrakis para os Atreide. Em uma cerimônia, Leto aceita o convite.
Em
meio a isso, seu filho Paul está sendo preparado e é treinado pela mãe Lady
Jessica no planeta natal deles, Caladan. Ela faz parte das Bene Gesserit, uma
irmandade de guerreiras com sensibilidade aguçada e poderes mentais. Elas têm
um intuito que ao longo dos tempos de produzirem o predestinado, o Kwisatz Haderach.
Aquele que trará a paz entre as Casas e terá habilidades extra-sensoriais. O
pensamento delas era uni-lo, com os Atreides tendo uma filha e os Harkonnen, um
filho. Mas isso não foi possível, já que Lady Jessica teve um menino com o
Duque. Paul já vem tendo visões do
próprio futuro e de sua família.
Na escuridão, um plano está sendo arquitetado. Shaddam preocupado com a ascensão de Atreide, auxilia o Barão a reassumir Arrakis. E ainda assassinar Leto para encerrar sua linhagem. A líder das Bene Gesserit, pede que Lady Jessica e Paul que sejam poupados e colocados em exilio. O Barão diz que irá fazer isso, quando na verdade isso não ocorre. Paul e Lady Jessica conseguem fugir graças aos seus poderes. Já Leto não tem a mesma sorte. O médico da família, dr. Yeuh, o trai sobre o pretexto que o Barão sequestrou a esposa dela se desligasse o sistema de defesa da cidade, ela seria libertada.
Obvio que isso não ocorre e ambos são mortos. Com o auxílio de Duncan, o Mestre das Espadas dos Atreides e protetor de Paul, ele e a mãe são resgatados, levados para um local seguro. São caçados pelos Sardaukar, soldados imperiais pagos pelo Barão, até serem achados e fugirem para o deserto, encontrando abrigo com os Fremen liderados por Stilgar. Com eles, Paul vê uma de suas visões se materializar. É Chani, uma jovem fremen. Desde que chegou em Arrakis, seus sentidos têm se intensificados. Assim temos o mote inicial para “Duna”. Ganhando uma nova versão com o cineasta franco-canadense Denis Villeneuve, que realizou o fenomenal “A Chegada (2016)” e “Blade Runner 2049 (2017)”, que nos traz sua visão sobre o mundo criado por Herbert.
Antes houveram duas tentativas com Alejandro Jodorowsky em 1970, que nunca saiu do papel. Haviam os primeiros desenhos de produção, mas ela não engatou. Há até um documentário a respeito, “Jodorowsky’s Dune” de 2013. E outra em 1984, tivemos a controversa versão de David Lynch, criador da série cult anos 90 “Twin Peaks”. Conhecido pelo temperamento forte e estilo único, incomodado com a pressão do estúdio, não teve a dita “liberdade artística” para fazer o filme que imaginava. Agora é a vez de Villeneuve. Apaixonado pelo livro desde adolescência, ele fez uma versão bem fiel ao conto. Ao mesmo tempo, deixando mais simples para o espectador que não leu o livro e acompanhou a jornada de Paul Atreides como “O Predestinado”.
Aqui interpretado perfeitamente por Timothée Chalamet. Ele transmite todos os questionamentos de seu personagem. As dúvidas de quem realmente é e se preparado para isso. Além de boa desenvoltura física, já que foi treinado por Gurney Halleck (o Thanos Josh Brolin), responsável pela área militar dos Atreides. Como Duncan temos o Aquaman Jason Momoa. Leto Atreides é interpretado pelo Poe Dameron Oscar Isaac e Lady Jessica é feita pela musa Rebecca Ferguson. Representando a Casa Harkonnen, Stellan Skarsgard é o Barão e o guardião da galáxia Drax Dave Bautista é o seu sobrinho, Glossu “A Besta” Rabban. Para ser Chani temos Zendaya e Javier Bardem como Stilgar.
Com um
elenco desses, a estrutura dramática está bem arranjada. Esteticamente, Villeneuve caprichou. “Duna”
é um espetáculo visual que deve ser vista na tela grande do cinema.
Aproveitando o deserto com suas grandes planícies. Diferenciando a magnitude
das naves, as cidades e o interior gigantesco de seus castelos, com o tamanho
das pessoas. Sem contar o trabalho excepcional para o figurino por Bob Morgan & Jacqueline West. O
diretor de fotografia Greg Raiser
destaca o tom árido de Arrakis e o clima chuvoso de Caladan. Denis dividiu a história de Paul em
duas partes, sendo a primeira agora e a segunda, deve rolar dependendo de como
o público irá reagir a isso. Em entrevista à revista Total Film, ele justificou
que se inspirou na saga de Peter Jackson, pois a história de Herbert é muita
rica e precisa ser contada nos seus mínimos detalhes. Como bem diz Chani, ao final do filme: "É Apenas O Começo".
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