O cinema de autor é um termo quase em extinção nos dias de hoje. Nos tempos áureos, mestres do cinema italiano Federico Fellini e Luchino Visconti nos encantaram com “Noites da Cabíria (1957)” e “Rocco & Seus Irmãos (1960)” respectivamente. Sem deixar de mencionar o mestre do suspense Alfred Hitchcock com os antológicos “Festim Diabólico (1948)” e “Janela indiscreta (1954)”.
Deixaram sua presença na sétima
arte. Um dos poucos que seguem esta cartilha é Wes Anderson.
Desde sua primeira película “Pura Adrenalina (1996)”, sendo
enaltecido pelo público do cinema alternativo com a comédia “Rushmore: Três
é Demais (1998)” e chamando atenção do grande público e da critica
especializada com o excepcional “Os Excêntricos Tenenbaum (2001)”.
Onde inclusive foi indicado ao Oscar de Melhor Roteiro Original daquele ano. Ele
foi escrito com Owen Wilson (“Os Estagiários, 2013”). Daí, tivemos um
tributo ao mergulhador e pesquisador marinho Jacques Cousteau em “A Vida
Marinha de Steve Zissou (2004)” com o eterno caça fantasma Bill Murray
faz aqui o alter ego do homenageado. Seguido do road movie “Viagem a
Darjeeling (2007), a animação “O Fantástico sr. Raposo (2009)"
e o infanto-juvenil “Moonrise Kingdom (2012)”.
Sua marca registrada é a liberdade criativa e sua estética apurada (fotografia, figurino e direção de arte) e a total devoção
de seus atores quando estão em cena. É isso que vemos em seu mais recente
trabalho, “O Grande Hotel Budapeste (The Grand Budapest Hotel,
2014)”. um elenco estelar que inclui nomes como o para sempre
Voldemort e agora o novo M da franquia James Bond, Ralph Fiennes; Tom
Wilkinson (“O Cavaleiro Solitário, 2013”), Willem Dafoe (“Ninfomaníaca,
2014”), Jeff Goldblum (“Jurassic Park: O Parque
dos Dinossauros, 1993”), F. Murray Abraham (o Salieri de “Amadeus,
1984”), Mathieu Amalric (“007: Quantum of
Solace, 2008”); Harvey Keitel (“Rio, Eu Te Amo,
2014”); Jude Law (o Watson da franquia “Sherlock Holmes”); Saiorse
Ronan (“A Hospedeira, 2013”); Léa Seydoux (do
polêmico “Azul é a Cor Mais Quente, 2013”), Adrien Brody (Oscar
de Melhor Ator por “O Pianista, 2002”) e Tilda Swinton (Oscar
de Melhor Atriz Coadjuvante por “Conduta de Risco, 2007”).
Velhos parceiros como Owen Wilson, Jason Schwartzman (“Walt nos Bastidores de Mary Poppins, 2013”), Bill Murray e Edward Norton (“O Incrível Hulk, 2008”) também marcam presença. E somos apresentados a um jovem talento, Tony Revolori. Contada em formato de flashback, aqui temos o “autor” (Wilkinson) que relembra sua estada no hotel sem o mesmo glamour de outrora. Situado em um país fictício, a República de Zubrowka. Próximo aos Alpes europeus, com forte influencia soviética no período da guerra fria. Em sua versão mais jovem, ele é representado por Jude Law que conhece o dono do decadente hotel, Zero Moustafa (Abraham). Voltando ao “Autor” de Wilkinson, ele diz que escritores não inventam histórias, só reproduzem o que veem e escutam.
É exatamente o que ele relata ao conhecer Zero que lhe conta uma história sobre o auge do hotel nos idos dos anos 30, onde era administrado pelo conciérge Gustave (Fiennes) e Zero, quando jovem (Revolori), tendo seu inicio com mensageiro de lá. Os dois se conhecem e desenvolvem uma forte amizade que será definitiva para a vida dos dois. Ao mesmo tempo, uma antiga hospede falece, Madame Celine Villeneuve Desgoffe und Taxis (Swinton). Zero descobre ela tinha um caso amoroso com Gustave, que a chamava de “Madame D”. Ao visita-la no enterro, descobre que ela deixou em seu nome, um quadro inestimável chamado de “Menino com a Maçã”. Enfurecendo seus herdeiros, em especial o filho de Madame D Dimitri (Brody). Mais tarde, ele é acusado de tramar seu assassinato. Sendo preso e contando com a ajuda de Zero para ser inocentado.
Enquanto isso, Zero se apaixona por Agatha (Ronan), jovem confeiteira do Grand Hotel. Com uma trama engenhosa, Anderson nos leva a uma viagem no tempo. Lembrando os antigos filmes de Hollywood, em especial, aqueles que começaram a utilizar o som. Com diálogos ágeis e cheios de metáforas, pontuados pela entoação da voz de Fiennes. Uma edição ágil com os enquadramentos característicos de Anderson, onde a câmera atravessa os corredores do hotel e mostrando sua exuberância arquitetônica. O destaque fica para a excelente sintonia do elenco. Com sequencias que nos surpreendem a cada tomada no decorrer de sua história. E a excepcional atuação de Ralph Fiennes, que nos trazem de volta na memória a elegância mesclada ao cinismo de galãs como Clark Gable. Com Wes Anderson nos trazendo um trabalho primoroso e mostrando porque é considerado um dos melhores cineastas da sua geração. E lembrando a todos que temos quem faça “cinema de autor” com qualidade.

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