Em
tempos do século XXI, ainda nos deparamos com um velho fantasma do passado: o
preconceito. O novo filme estrelado pelo capitão Nascimento Wagner Moura, “Praia do Futuro (2014)”,
foi sua vítima mais recente. Alguns dias atrás, foi veiculado nas redes sociais,
a imagem de um ingresso de uma sala de cinema da cidade de João Pessoa
(Paraíba), marcado a carimbo com a palavra “AVISADO”. Isto é, para
bom entendedor, os funcionários da sala estavam dizendo para aqueles que
compravam entradas para o filme sobre o teor do que seria visto em cena.
Ou seja, o personagem de Moura se
relacionando intimamente com seu parceiro de mesmo sexo. Realmente para aqueles
que não estão acostumados com este tipo de encenação, há um choque natural. Mas
acredito, do que já foi falado anteriormente sobre “Praia do Futuro”, o espectador mais atento sabe o que irá ver na
tela grande. Seja hetero, homo e / ou simpatizante.
Você deve recordar de um filme chamado “O Segredo de Brokeback
Mountain (2005)” estrelado pelo eterno Coringa Heath Ledger e o Príncipe da
Pérsia Jake Gyllenhaal, onde os dois são cowboys que trabalham isolados
cuidando de um rebanho de bois na montanha no titulo. Até que surge uma paixão avassaladora entre
eles com consequências do mesmo peso em suas vidas. Mas o que chamou atenção
em “O Segredo de Brokeback Mountain” foi exatamente o que está acontecendo com
“Praia de Futuro”, os momentos em
que os personagens de Ledger & Gyllenhaal estão juntos, realmente chamam a
atenção até para o espectador mais desatentado.
O SEGREDO DE BROKEBACK MOUNTAIN
Com um diferencial, não houve aviso marcado no ingresso na época. Só o
boca a boca causado devido às referidas cenas. Este que vos escreve, viu o
filme e fui realmente pegado de surpresa por elas. Mas que nada desabone. E sim
credite ao filme pela sua autenticidade e coragem. Graças à atuação de seus
atores. Tanto que cada um recebeu uma indicação ao Oscar daquele ano. Heath para
Melhor ator e Jake para Melhor Ator Coadjuvante.
Voltando a “Praia do Futuro”.
A película é dirigida por Karim Aïnouz,
dos filmes “Viajo Porque Preciso, Volto Porque Te Amo (2009)” e “Abismo
Prateado (2013)”. É nele que conhecemos Donato (Moura), salva vidas que trabalha na praia do titulo, que fica em
Fortaleza (Ceará). Sua rotina é quebrada quando efetua um resgate fracassado e conhece
o amigo da vitima, um alemão chamado Konrad (Chemens Schick). Já no hospital, os dois conversam a respeito do
ocorrido e Donato oferece uma carona a Konrad.
No percurso, os dois se relacionam intensamente. De lá, iniciam uma
relação. Assim começa o filme, que é dividido em três atos. Este primeiro é
chamado de “O Abraço do Afogado”. Vemos
também o irmão mais novo de Donato, o pequeno Ayrton. Que considera Donato, um super-herói.
Devido à sua coragem e destreza ao nadar no mar agitado da praia do futuro. Onde
inclusive o chama de Aquaman.
Sai à ensolarada praia de Fortaleza. De repente estamos na cinzenta e
fria Berlim (Alemanha). Em viagem, Donato vai ao encontro de Konrad e lá se
sente em casa. Mais que no próprio país. A paixão deles se fortalece. “Um Herói Partido ao Meio” é o título deste ato.
Onde Konrad pede a Donato que fique com ele. Os dois brigam, porque Donato se
sente preso ao compromisso com a família. Na ida ao aeroporto, de última hora,
Donato resolver ficar na cidade.
O ato
final, “Um Fantasma que Falava Alemão”, passam-se oito anos. Estamos em
Berlim e vemos um rapaz andando meio que perdido nas ruas da cidade à procura
de alguém. Ele é Ayrton (Jesuíta Barbosa)
mais velho, que veio atrás de Donato e tentar entender porque ele abandonou
tudo e a todos no Brasil.
“Praia do Futuro” usa a
mesma formula de “O Segredo de Brokeback Mountain”. Abordando a
homossexualidade de modo verdadeiro, onde pessoas do mesmo sexo podem se
apaixonar e tentar viver suas vidas como uma pessoa heterossexual. Vemos inclusive, o ato impensado de Donato, pode ser devastador para
uma família. Ao mesmo tempo, corajoso e covarde. Assumindo sua sexualidade e não
falar sobre como se sentia realmente para seu irmão e familiares,
respectivamente.
Wagner Moura mostra porque
é um dos melhores atores brasileiros da atualidade. Não deixando seu personagem
cair no estereótipo gay como visto em novelas globais. Ele tem a sensibilidade
de balancear as certezas e questionamentos de suas ações. E como a mudança em sua
vida era o que realmente precisava para se sentir feliz e completo por dentro. Destacando também a direção segura de Karim Aïnouz, que tira o melhor de cada ator em cena. Sem
deixar de mencionar a bela fotografia de Ali
Olgay Gözkaya, que nos faz sentir nos olhos as cores quentes de Fortaleza e as cores
frias de Berlim como poucos.
Comentários
Postar um comentário