O ano de 2020 vai ser eternamente lembrado como o ano em que o mundo parou literalmente. Devido a pandemia da Covid 19 foi preciso ser feito o distanciamento social e a pratica de higiene pessoal mais rigorosa. Uso de álcool em gel e máscara. E evitar simples gestos como um aperto de mão, um abraço e um beijo. Isso afetou diretamente o mundo do entretenimento. A sétima arte, o teatro e a música tiveram seus principais eventos cancelados. Por exemplo, a estreia de filmes como “Viúva Negra” do Universo Cinematográfico Marvel, peças teatrais se tornaram virtuais e apresentações do seu artista favorito seguiram no mesmo formato. Somado ao cancelamento de festivais como Lollapalooza, Coachella e Glastonbury, por exemplo.
O Foo Fighters foi um dos mais atingidos pelo isolamento. Já que no ano passado, eles celebrariam os 25 anos do lançamento do primeiro álbum, o homônimo “Foo Fighters (1995) ”. Bem como o aniversário do grupo. Estavam planejando um show especial em formato de festival. Juntamente com o novo álbum intitulado “Medicine at Midnight”. Tudo precisou ser adiado e sem uma data previa por causa da pandemia. Até que em novembro de 2020, ao participarem do programa humorístico “Saturday Night Live”, anunciam o novo single, a cheia de swing “Shame Shame”. Junto a isso, um vídeo comemorativo em sua página oficial no YouTube chamado “Times Like Those”. Onde reveem a própria história com o bom humor que lhes é peculiar.
Em 15 de dezembro, fizeram uma apresentação especial no canal Amazon Prime Video. Na virada de ano, mais um petardo de “Medicine at Midnight”, o potente hard rock “No Son of Mine”. Mais recentemente, soltaram a balada que não é balada “Waiting on a War”. Até que chega o grande momento, pelo menos um deles. Finalmente “Medicine at Midnight” é lançado. Ao contrário dos últimos discos, “Sonic Highways (2014) ” e “Concrete and Gold (2017)”, não temos faixas épicas como “I Am A River” e “The Sky is a Neighborhood ” respectivamente.
Nas palavras de Dave, ele queria um álbum com sonoridade mais simples e direta. Lembrando o disco de estreia e o EP “Saint Cecilia” de 2015, e como toda gravação surgem as "famosas" lendas urbanas. Gravado em uma casa abandonada vizinha a de Dave, onde foi construído um pequeno estúdio no quarto do andar de cima, onde ficaram as guitarras, com a bateria na sala principal e os vocais foram gravados no banheiro. Grohl diz que nas madrugadas que ficavam por lá para descansar, ouviam sons estranhos.
No dia seguinte, quando escutavam as demos das músicas, reparou que estes sons foram registrados. Como dizia um velho amigo deste que vos escreve: “Sinistro! ”. Isso não influenciou diretamente no resultado final de “Medicine at Midnight”. Dave o comparou com o clássico dos anos 80 “Let’s Dance (1983) ” do camaleão do rock David Bowie. Dizendo que é o mais próximo que o Foo Fighters pode fazer em termos de um som mais dançante. Como é um baterista na sua essência, a soul music e o rhythm’n’blues fazem parte dele. O maior exemplo é o primeiro single “Shame Shame”. Ele diz que a canção é diferente de tudo o que eles compuseram até hoje.
Comentou:
“O videoclipe de ‘Shame Shame’ foi inspirado em um sonho que tive quando tinha 14 anos de idade.
Então, um sonho que tive quando tinha 14 ou 15 anos e estava de pé nesta colina
e havia um caixão pegando fogo no topo desta colina próximo a esta árvore
morta, então, eu vou correndo até o caixão e estou tentando abri-lo para salvar
quem está dentro dele e queimando as minhas mãos porque o caixão está em
chamas... E vivi esse sonho durante minha vida inteira e finalmente, quando
escrevi e compus a música, pensei: 'Oh, meu Deus, acho que finalmente escrevi
uma canção sobre esse sonho que tive quando tinha 14 anos'".
Finalizou dizendo que “'Shame Shame' é a melhor forma de apresentar às pessoas os próximos 25 anos da nossa banda”. Já “No Son of Mine” foi composta com o finado líder do Motorhead Lemmy Kilmister em seus pensamentos. Sobre isso, Dave disse “Eu queria que o Lemmy estivesse vivo para ouvi-la, porque ele veria quanta influência ele tem sido para mim”. “Waiting on a War” é uma reflexão sobre a guerra: “Como uma criança crescendo nos subúrbios de Washington DC, sempre tive medo da guerra. Tive pesadelos com mísseis no céu e soldados em meu quintal, provavelmente causados pela tensão política do início dos anos 1980 e minha proximidade com o Capitólio da Nação. Minha juventude foi passada sob a nuvem de um futuro sem esperança”.
Completou dizendo: No outono passado, enquanto levava minha filha de 11 anos para a escola, ela se virou para mim e perguntou: 'Papai, vai haver uma guerra?' Meu coração afundou em meu peito quando olhei aqueles olhos inocentes, porque percebi que ela agora estava vivendo sob a mesma nuvem de um futuro sem esperança que eu sentia há 40 anos. Escrevi 'Waiting On a War' naquele dia”. Concluiu: “Todos os dias esperando o céu cair. Há mais nisso do que apenas esperar por uma guerra? Porque preciso de mais. Esta música foi escrita para minha filha, Harper, que merece um futuro, assim como toda criança”.
O resto do disco conta com o padrão de qualidade musical que bem conhecemos dos FF. É interessante ver como eles cresceram e amadureceram musicalmente. Em “Medicine at Midnight”, podem “brincar” com a sonoridade que os marcaram. Passando pelo indie rock com ares hard rock anos 70 de “Foo Fighters”, The Colour and the Shape (1997) ” e “There is Nothing Left to Lose (1999)" com as guitarras mais encorpadas de Chris Schiflett e Pat Smear junto ao contrabaixo pulsante de Nate Mendel com a batida forte e ritmada de Taylor Hawkins mostram como grandes músicos que se tornaram. Comprovada em "One By One (2002)" e "In Your Honor (2005)".
Um disco dançante, sem perder sua essência com o mais puro rock’n’roll na veia. Sem esquecer do seu carismático e talentoso vocalista Dave que assume a guitarra base e as vezes nos shows ao vivo troca de lugar com Taylor, quando este vai para frente do palco e assume o microfone. Produzido mais uma vez por Greg Kurstin, que trabalhou com FF em “Concrete and Gold”. Traz sua experiência adquirida ao lado de Kelly Clarkson ("Wrapped in Red, 2013"), Lily Allen ("Sheezus, 2014"), Adele (“25, 2015”) e sir Paul McCartney (“Egypt Station, 2018”), para auxiliar Dave a concretizar sua visão para “Medicine at Midnight”.
“Making A Fire” abre os trabalhos como uma canção padrão FF, o que a diferencia é o coral feminina liderado pela filha de Dave, Violet. O “Na Na Na” dá uma quebrada no peso da canção, ganhando um reforço na harmonia. “Cloudspotter” é uma volta ao passado com um olho no que rola atualmente. Cheia de groove acompanhada pelos riffs r’n’r do trio Grohl, Schiflett & Smear. A faixa título “Medicine At Midnight”, dá o tom que Dave tem comentado ao descrever o disco. Um pé no r’n’b com o indie rock do início de carreira. Assim como “Holding Poison” com ares de pop rock e cheia de swing.
A delicada “Chasing Birds” entraria fácil no disco II de “In Your Honor (2005) ” e em “Skin and Bones (2006) ”. Quando o FF resolveu desplugar suas guitarras e ter seu momento “banquinho & violão”. Para fechar os trabalhos a alegre “Love Dies Young” exibindo que o grupo não tem medo em experimentar novos sons. No caso, Soul, Funk e R’n’B. Adicionados à pegada rock’n’roll característica FF. Aqui temos a oportunidade de prestar mais atenção na cozinha formada por Nate & Taylor. Onde o primeiro exibe toda sua habilidade nas quatro cordas de seu contrabaixo e o segundo com a competência de sempre nas peles de sua bateria.
Making A Fire
Shame Shame
Cloudspotter
Waiting On A War
Medicine At Midnight
No Son Of Mine
Holding Poison
Chasing
Birds
Love
Dies Young
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