O mítico poeta Bob Dylan possui uma nuvem de mistério envolta em sua persona. Pouco se sabe sobre seu passado e mesmo seu cancioneiro revela parte dela. O mestre do cinema Martin Scorsese nos brindou sua visão sobre Dylan no documentário “No Direction Home” de 2005 e em 2007, o cineasta Todd Haynes fez o mesmo com “Não Estou Lá”. Com um diferencial, seu enredo era baseado nas canções de Dylan e assim ele foi personificado por vários atores como Christian Bale, Cate Blanchett e Richard Gere por exemplo. Comentamos ambos no link: https://cyroay72.blogspot.com/2014/01/nao-estou-la-sem-direcao-para-casa.html. Agora chegou a vez de James Mangold, nos brindar sua visão sobre Dylan em “Um Completo Desconhecido (A Complete Unknown, 2024)”.
Baseado no livro “Dylan Goes Electric (2015)” de Elijah Wald, Mangold o adaptou ao lado do roteirista Jay Cocks, que trabalhou com Scorsese em “Gangues de Nova York (2002)” e “Silêncio (2016)”. Aqui vemos um jovem Robert Zimmerman, interpretado por Timothée Chalamet, chegando a Nova York buscando seu lugar ao sol e noticias de seu maior ídolo na música, Woody Guthrie. Aqui feito por Scoot McNairy, que nos traz uma interpretação silenciosa e marcante. Descobre que ele está hospitalizado em uma instituição no interior de NY. Lá o encontra e ao mesmo tempo, Pete Seeger (Edward Norton). Seu ídolo na folk music e a interação entre eles é imediata. Com o jovem trazendo uma canção (“Song To Woody”) a tiracolo para seu ídolo.
Pete o hospeda em sua casa e o apadrinha, acreditando no seu potencial. Levando o jovem ate o berço da folk music em Greenwich Village, para se apresentar. Antes disso, toca em pequenos bares, conhece Sylvie Russo (Elle Fanning, a princesa Aurora da franquia Disney “Malévola”). Os dois começam a namorar e Bob passa a morar no apartamento dela. De volta à Greenwich, Dylan toca após o impactante show da musa folk Joan Baez, com Monica Barbaro (da série Netflix “Fubar, 2023)”no papel. Uma troca de olhares fulminantes, ao mesmo tempo se atraem e se repelem. Eles acabam formando um triangulo amoroso e simultaneamente impulsiona a carreira de Dylan.
Assim temos o mote inicial de “Um Completo Desconhecido”, com Mangold exibindo o início de carreira do jovem Zimmerman. A paixão pela folk music para mais tarde se tornar o artista arrebatador que conhecemos. Como a presença de Sylvie e Joan foram essenciais para isso acontecer. A pedido de Bob, o nome da personagem de Fanning foi mudado. Originalmente é Suze Rotolo. James mostrou o roteiro ao ídolo e com sua benção, o aprovou. Além de compartilhar suas memorias deste período da sua vida. Ao menos, o que se recorda. Sylvie é uma pessoa engajada politicamente, isso acende a chama contestador de Dylan. Elle exibe toda sua sensibilidade e resiliência. Ao mesmo tempo, Joan ajudou a carreira de Bob engatar de vez.
Aqui Barbaro nos traz sua personalidade tranquila e convicta, onde sua voz é sua expressão de arte. Mas é a atuação de Timothée que se destaca. Cada trejeito, o modo de falar e cantar, capitou a essência de Dylan. Um cara de personalidade perseverante, que passa por cima de todos os obstáculos a frente. Não se importando quem fere no caminho. Isso é exemplificado na relação com Joan e Sylvie. O dueto formado por Timothée e Monica assume os vocais e a segunda faz um bom trabalho sem querer se comparar à sua personagem.
Norton também chama atenção por fazer um personagem mais sensível do que estamos acostumamos a vê-lo. Assumindo as canções de Seeger com uma desenvoltura exemplar. Inclusive tocando banjo. “Um Completo Desconhecido” não busca desmitificar o mito ou explicá-lo. Apenas traz uma pessoa ambiciosa que deseja alcançar o sucesso por seus próprios méritos e não precisa se justificar quem é. Além de não ficar preso a rótulos como nova estrela da musica folk. Exemplificado no ato final ao tocar sua guitarra elétrica no Festival Folk de Newport em 1965 no seu encerramento. Quando estava prestes a lançar o antológico “Highway 61 Revisited (1965)”, deixando o violão de lado para assumir a guitarra elétrica adquirida em Londres.
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