O
acervo de imagens conseguido por Scorsese
e seu editor David Tedeschi é de
encher os olhos. E a influência da música folk com depoimentos do grupo Peter,
Paul & Mary, das cantoras Joan Baez e Maria Muldaur, o homem de preto
Johnny Cash e do poeta Lawrence Ferlinghetti que aparece para destilar sua
poesia agressiva protestante entre uma e outra cena do documentário. Já a
segunda parte, vemos um Dylan
trocando o violão acústico pela guitarra elétrica. Causando uma reação
contrária dos fãs mais ardorosos. Ao mesmo tempo, o endeusamento de suas
canções. Segundo palavras de Joan Baez, “As
pessoas são hipnotizadas por elas, sem qualquer tipo de explicação”. A
ficção criada em “Não Estou Lá” e o tom real de “No Direction Home” nos dá
uma ideia de como deve ser a cabeça deste poeta genial chamado Bob Dylan. E não merece ser visto
apenas por seus admiradores, bem como apreciadores da boa música.
Apesar do tom poético,
é a junção de dois títulos da cinebiografia do poeta Bob Dylan. O primeiro é o filme dirigido por Todd Haynes (“Velvet Goldmine, 1998”), “Não Estou Lá (“I’m Not There, 2007”) que se baseia livremente nas
canções de Dylan para contar sua
vida como cantor folk, passando pelo som elétrico das guitarras e a conversão
ao cristianismo. Dylan é interpretado por distintos atores para explicar as mudanças de fase na
sua carreira. Como Christian Bale (o
eterno Cavaleiro das Trevas) faz seu alter ego Jack Rollins. O pequeno ator
negro Marcus Carl Franklin, uma alusão
ao ídolo de Dylan, Woody Guthrie.
Ben Wishaw (o novo Q da franquia James
Bond) é Arthur, menção ao poeta francês Arthur Rimbaud. Já a Rainha Elizabeth Cate Banchett faz Jude Quinn, que
representa a versão guitarra de Dylan. O coringa Heath Ledger (04.04.1979 – 22.01.2008) é Robin Clark, um ator que
está encenando um filme sobre Jack Rollins. Enquanto Richard Gere (“Sempre ao seu Lado, 2009”) é a representação do fora
da lei do velho oeste Billy The Kid (referência à trilha composta por Dylan para o filme “Patt Garrett &
Billy The Kid (1973)” de Sam Peckimpah)
“Não Estou Lá” brinca bem com o misticismo cercado em torno da
persona de Dylan. O filme não busca
respostas ou explicar porque ele é do jeito que é. Onde cada ator utiliza
gestos e modo de falar de Dylan para
mostrar seu crescimento pessoal e profissional como músico. Bale mostra a boêmia do bairro do Greenwich Village de Nova York e o inicio
das canções de protesto, para posteriormente mostrar sua conversão ao
cristianismo. Franklin faz Guthrie,
uma influência direta na carreira de Dylan.
Wishaw personifica a ironia nas
canções de Dylan.
Ledger é a
personificação de Dylan em sua fase de transição quando parou de compor canções
de protesto com o assassinato do presidente Kennedy e o fim do seu casamento com Joan Baez. Banchett é quando Dylan troca o som acústico do violão pelo som elétrico das
guitarras e como isso irritou seus fãs mais radicais. Bem como sua transição com
o sucesso crescente e o sarcasmo cada vez mais evidente em suas entrevistas. Já
Gere, é a fase que Dylan resolve se
isolar do mundo e de todos para se redescobrir.
“Não Estou Lá” conta no seu elenco Julianne Moore como Alice Fabian. Uma clara referência à primeira
esposa de Dylan, a cantora folk Joan Baez. David
Cross é o poeta beatnik Allen Ginsberg. Já Bruce Greenwood (o comandante Pike da saga Star Trek de J.J.
Abrams) é o jornalista Keenan Jones (citado na canção “Ballad of a Thin Man”). Que
mais tarde surge na película como Pat Garrett no segmento com Gere. E a Marilyn Monroe Michelle Wiliams como a modelo Coco Rivington (uma clara alusão à
modelo dos anos 60 Edie Sedwick, musa de Andy Warhol e dito caso amoroso de
Dylan naqueles tempos). O filme não traz só
referências das canções de Dylan
como também do ótimo documentário “Don’t Look Back (1967)” de D.A. Pennebaker, a
biografia de Robert Shelton “No Direction Home ( primeira edição saiu em 1986 e
atualizada a partir de 2003)” e “As Crônicas (2004)” de autoria do próprio Dylan.
Do outro lado temos o documentário
dirigido pelo cineasta Martin Scorsese,
“No Direction Home (2005)”. Scorsese optou por mostrar seu inicio
de carreira nos anos de 1961 a 1966. Com uma riqueza de detalhes, vemos Dylan
como poeta da musica folk e country até um pouco antes de seu acidente de moto
em 1966. O foco de Scorsese está na poesia
dylanesca e a efervescente cena cultural dos anos 60. “No Direction Home” é dividido em duas partes. A primeira conta à
saída do então Robert Allen Zimmerman de sua cidade no meio-oeste americano até
a chegada ao bairro Greenwich Village de Nova York. Com o próprio falando das
dificuldades daqueles tempos para se tornar um cantor de sucesso.
Comentários
Postar um comentário