Pular para o conteúdo principal

NÃO ESTOU LÁ, SEM DIREÇÃO PARA CASA

Apesar do tom poético, é a junção de dois títulos da cinebiografia do poeta Bob Dylan. O primeiro é o filme dirigido por Todd Haynes (“Velvet Goldmine, 1998”), “Não Estou Lá (“I’m Not There, 2007”) que se baseia livremente nas canções de Dylan para contar sua vida como cantor folk, passando pelo som elétrico das guitarras e a conversão ao cristianismo. Dylan é interpretado por distintos atores para explicar as mudanças de fase na sua carreira. Como Christian Bale (o eterno Cavaleiro das Trevas) faz seu alter ego Jack Rollins. O pequeno ator negro Marcus Carl Franklin, uma alusão ao ídolo de Dylan, Woody Guthrie. 

Ben Wishaw (o novo Q da franquia James Bond) é Arthur, menção ao poeta francês Arthur Rimbaud. Já a Rainha Elizabeth Cate Banchett faz Jude Quinn, que representa a versão guitarra de Dylan. O coringa Heath Ledger (04.04.1979 – 22.01.2008) é Robin Clark, um ator que está encenando um filme sobre Jack Rollins. Enquanto Richard Gere (“Sempre ao seu Lado, 2009”) é a representação do fora da lei do velho oeste Billy The Kid (referência à trilha composta por Dylan para o filme “Patt Garrett & Billy The Kid (1973)” de Sam Peckimpah)


Não Estou Lá” brinca bem com o misticismo cercado em torno da persona de Dylan. O filme não busca respostas ou explicar porque ele é do jeito que é. Onde cada ator utiliza gestos e modo de falar de Dylan para mostrar seu crescimento pessoal e profissional como músico. Bale mostra a boêmia do bairro do Greenwich Village de Nova York e o inicio das canções de protesto, para posteriormente mostrar sua conversão ao cristianismo. Franklin faz Guthrie, uma influência direta na carreira de Dylan. Wishaw personifica a ironia nas canções de Dylan. 

Ledger é a personificação de Dylan em sua fase de transição quando parou de compor canções de protesto com o assassinato do presidente Kennedy e o fim do seu casamento com Joan Baez. Banchett é quando Dylan troca o som acústico do violão pelo som elétrico das guitarras e como isso irritou seus fãs mais radicais. Bem como sua transição com o sucesso crescente e o sarcasmo cada vez mais evidente em suas entrevistas. Já Gere, é a fase que Dylan resolve se isolar do mundo e de todos para se redescobrir. 


Não Estou Lá” conta no seu elenco Julianne Moore como Alice Fabian. Uma clara referência à primeira esposa de Dylan, a cantora folk Joan Baez. David Cross é o poeta beatnik Allen Ginsberg. Já Bruce Greenwood (o comandante Pike da saga Star Trek de J.J. Abrams) é o jornalista Keenan Jones (citado na canção “Ballad of a Thin Man”). Que mais tarde surge na película como Pat Garrett no segmento com Gere.  E a Marilyn Monroe Michelle Wiliams como a modelo Coco Rivington (uma clara alusão à modelo dos anos 60 Edie Sedwick, musa de Andy Warhol e dito caso amoroso de Dylan naqueles tempos). O filme não traz só referências das canções de Dylan como também do ótimo documentário “Don’t Look Back (1967)” de D.A. Pennebaker, a biografia de Robert Shelton “No Direction Home ( primeira edição saiu em 1986 e atualizada a partir de 2003)” e “As Crônicas (2004)” de autoria do próprio Dylan. 



Do outro lado temos o documentário dirigido pelo cineasta Martin Scorsese, “No Direction Home (2005)”. Scorsese optou por mostrar seu inicio de carreira nos anos de 1961 a 1966. Com uma riqueza de detalhes, vemos Dylan como poeta da musica folk e country até um pouco antes de seu acidente de moto em 1966. O foco de Scorsese está na poesia dylanesca e a efervescente cena cultural dos anos 60. No Direction Home” é dividido em duas partes. A primeira conta à saída do então Robert Allen Zimmerman de sua cidade no meio-oeste americano até a chegada ao bairro Greenwich Village de Nova York. Com o próprio falando das dificuldades daqueles tempos para se tornar um cantor de sucesso. 


O acervo de imagens conseguido por Scorsese e seu editor David Tedeschi é de encher os olhos. E a influência da música folk com depoimentos do grupo Peter, Paul & Mary, das cantoras Joan Baez e Maria Muldaur, o homem de preto Johnny Cash e do poeta Lawrence Ferlinghetti que aparece para destilar sua poesia agressiva protestante entre uma e outra cena do documentário. Já a segunda parte, vemos um Dylan trocando o violão acústico pela guitarra elétrica. Causando uma reação contrária dos fãs mais ardorosos. Ao mesmo tempo, o endeusamento de suas canções. Segundo palavras de Joan Baez, “As pessoas são hipnotizadas por elas, sem qualquer tipo de explicação”. A ficção criada em “Não Estou Lá” e o tom real de “No Direction Home” nos dá uma ideia de como deve ser a cabeça deste poeta genial chamado Bob Dylan. E não merece ser visto apenas por seus admiradores, bem como apreciadores da boa música.


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Zendaya & Os "RIVAIS"

Ao contrário do que se pode imaginar, o drama “ Rivais ( Challengers , 2024) ” não é um filme sobre tênis. Apesar do foi visto nos trailers e os vídeos promocionais, o filme discute a relação entre Tashi Duncan e os amigos de infância Art Donaldson e Patrick Zweig. Eles são interpretados pela musa Zendaya , Mike Faist (da refilmagem “ Amor Sublime Amor , 2021”) e Josh O’Connor (o Príncipe Charles da série Netflix “ The Crown ”, 2016 a 2023) respectivamente. Dirigido por Luca Guadagnino de “ Me Chame Pelo Meu Nome (2017)” a partir do roteiro escrito por Justin Kuritzkes . Zendaya é a jovem tenista com futuro promissor. Já os personagens de Mike e Josh almejam ser grandes tenistas.  A princípio, o conto se mostra simples, só que não é.  Tashi é uma mulher ambiciosa, que deseja aproveitar ao máximo seu talento para o esporte. Art e Patrick, tem interesses próprios. O primeiro quer conquistar todos os torneios que participar, já o segundo deseja fama e fortuna. Embora Patrick mostra

Visita a "CASA WARNER"

Aberta desde 01 de setembro, a exposição que celebra os 100 anos dos estúdios Warner Bros. , chamada “ Casa Warner ”. Localizada no estacionamento do Shopping Eldorado (Zona Oeste) na cidade de São Paulo. Ela nos traz seus personagens clássicos dos desenhos animados Looney Tunes como Pernalonga, Patolino, Frajola e Piu-Piu. Em especial, “ Space Jam (1996)” e “ Space Jam : Um Novo Legado (2021)”, ambos com as estrelas do basquete Michael Jordan e LeBron James respectivamente. Além da dupla Tom & Jerry. Filmes que marcaram a história da Warner também estão lá. Como a reprodução do cenário do clássico " Casablanca (1942)" estrelado por Humphrey Bogart e Ingrid Bergman. Somado aos heróis do Universo Estendido DC que já estão na entrada da exposição. A  Liga da Justiça surge em tamanho natural como estatuas de cera. O Cavaleiro das Trevas está representado pelo seu Batmóvel do antológico seriado estrelado por Adam West e ao seu lado o furgão Máquina do Mistério da turma do

"VOCÊ NÃO SABE QUEM EU SOU": documentário conta a vida louca vida de NASI

Está ocorrendo na cidade de São Paulo desde o dia 06 de junho, o festival In-Edit . Em sua décima edição, ele traz as melhores produções sobre a música mundial. Sendo no formato de documentário ou filme biográfico. Passando por gêneros como música clássica, eletrônica, world music e chegando até o bom e velho rock’n’roll. Na ultima segunda-feira (11 de junho de 2018) tivemos a estréia do documentário sobre um dos ícones mais controversos do rock brasileiro dos anos 80, o vocalista da banda paulistana Ira! , Marcos Valadão Ridolfi. Mais popularmente conhecido como Nasi . Com o título de “ Você Não Sabe Quem Eu Sou ”, conhecemos um pouco da sua personalidade forte. Dirigido pelo jornalista Alexandre Petillo (que escreveu a biografia de Nasi , “ A Ira de Nasi ” ao lado de Mauro Betting) e contou com a colaboração dos também jornalistas Rodrigo Cardoso e Rogério Corrêa . A estréia ocorreu no Cinesesc com a presença dos envolvidos e sua equipe da produtora Kurundu Filmes. Eles c