O mundo da espionagem sempre trouxe um certo encanto. Em especial na sétima arte. A saga do agente com licença para matar James Bond, conhecido mundialmente como 007 e mais recentemente com a franquia “Missão Impossível” com o incorruptível Ethan Hunt feito pelo galã de sorriso Colgate Tom Cruise. Viagens ao redor do globo terrestre, belas roupas e equipamentos mirabolantes para "salvar o dia". Agora fica o pensamento de como seria se tivéssemos em nossa terra brasilis, um espião? Ela é respondida com o thriller político “O Agente Secreto (2025)” de Kleber Mendonça Filho. Vindo dos impactantes “Bacurau (2019)” e “Retratos Fantasmas (2023)”, ele nos traz o conto do pesquisador e cientista Marcelo, interpretado pelo capitão Nascimento Wagner Moura.
Ele está de volta à sua cidade natal, Recife. Estamos no ano de 1977 em plena ditadura militar. Fazendo com que Marcelo mantenha sua presença praticamente invisível. Já que é procurado por uma desavença com empresários do ramo industrial sobre os direitos de uma patente. Ele deseja rever o filho Fernando. Cuidado pelos avós, que o mantem em segurança. Sua esposa Fátima (Alice Carvalho) faleceu subitamente. Buscando meios para sair com ele do Brasil. Descobrindo que as autoridades locais estão envolvidos com magnatas e políticos locais. Onde cada um encobre o outro, em seus movimentos exclusos. No caso, a cidade é vigiada em todos os cantos. A ditadura é um mero disfarce para o que realmente ocorre por lá. Encontrando refúgio numa casa com pessoas na mesma condição que ele. Há outros dissidentes, pessoas marginalizadas e um casal de refugiados angolanos. Histórias em comum.
Marcelo conhece Elza (Maria Fernanda Cândido), uma mulher com contatos que podem ajudá-lo a realizar seus planos. A corrupção é atemporal, o envolvimento de militares com políticos, a polícia e empresários de Recife, fazendo uso da tensão daqueles tempos a seu favor e bel-prazer. O monitoramento da população tinha outros intuitos. Marcelo é alocado em uma repartição pública. Elza vai atrás dos passaportes para que ele e o filho saiam do país.. Daí o mote inicial de “O Agente Secreto”. Exibindo um lado da ditadura que é pouco conhecido. Apesar de estarmos vivenciando os nossos direitos cerceados. O exército não era tão idôneo como aparentava. Eles também recebiam propinas, fechando os olhos para a corrupção. Mendonça aproveita o momento, para elevar o nível de suspense. Marcelo caminhando por Recife em busca de pontos estratégicos.
Para ele poder conversar com seu advogado. Que o alerta que está sendo monitorado à distância. E seu nome está na lista de procurados da Polícia Federal. Por isso, vai até o orelhão próximo ao cinema São Luiz. Icônica sala da cidade que tem o avô, seu Alexandre (Carlos Francisco), de Fernando como projetista. Uma referência ao documentário “Retratos Fantasmas”. Wagner traz todo seu carisma e talento ao personagem. No início, uma pessoa cheia de segredos. E como ao descascar uma cebola, as camadas de Marcelo vão se surgindo. Como a revelação de seu nome verdadeiro, Armando. Somada a pegada social e política em seus trabalhos. Como é característica do cineasta recifense, tem um lado mais leve com a presença da dona da pensão que refugia Marcelo.
É a dona Sebastiana, feita por Tânia Maria. Revelada pelo próprio Mendonça em “Bacurau”. De um papel menor para literalmente roubar a cena de Moura. Apesar da sua ciência das atividades de Marcelo e dos outros. Esse é um dos fatores faz com o roteiro de Kleber traga um frescor ao tema. Apesar de ficcional, a ditadura foi um período conturbador em nossa história. E que se confunde como os dias de hoje. Um golpe de estado arquitetado pelo governo de ocasião e que foi evitado graças a negativa das forças amadas em se endossar tal ação. Ao mesmo tempo, celebra o folclore da região com o mito do Perna Cabeluda. Completam o elenco Gabriel Leone (o Ayrton Senna da série Netflix) é o assassino Bobbi e o veterano ator alemão Udo Kier é o refugiado Hans.

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