Aproveitando o lançamento do filme “Springsteen: Salve-me do Desconhecido”, que traz os bastidores do disco “Nebraska”, lançado em 1982. E será o próximo tema do blog. Está saindo a edição estendida do álbum que marcou a carreira do cantor em ascensão na terra do tio Sam, como uma virada de chave. Tanto pessoal quanto profissional. Vindo do sucesso avassalador de “Born to Run (1975)”, “Darkness on the Edge of Town (1978)” e “The River (1980)”, a gravadora Sony já esperava algo do mesmo naipe para o próximo trabalho.
Bruce Springsteeen já imaginava o contrário. Ele queria fazer algo mais intimista. Indo mais a fundo nas raízes da América. Ao mesmo tempo, apaziguar sua alma e deixar para trás o passado. No caso, a relação distante com o pai Dutch. Também queria novas canções que poderiam fazer parte do repertorio ao lado da E Street Band. Por isso, se isolou de tudo e todos com um gravador portátil de quatro canais para compô-las. No quarto da sua morada em Colts Neck (New Jersey). Para mais tarde serem gravadas no próximo álbum ou aproveitadas futuramente. Os executivos da Sony entraram em pânico.
Já que não havia um hit em potencial. O empresário e amigo de longa data Jon Landau permaneceu ao seu lado, assim foi em frente. Nas primeiras composições, Boss percebeu que elas não combinavam com estilo rock and roll da banda. O que era para ser um período sabático, foi ganhando o formato que trouxe “Nebraska”. Acompanhado pelo violão e gaita, Springsteen traz consigo também o embrião do álbum que o tornaria mundialmente conhecido, o celebre “Born in the U.S.A.”. Que saiu em 04 de junho de 1984.
Nesta edição expandida temos as primeiras demos da canção homônima, "Downbound Train" e “Working on the Highway”. Além de finalmente ouvirmos a versão elétrica do disco com Bruce acompanhado pela E Street Band. Aqui é o CD II. No primeiro temos as demos inéditas de “Nebraska”: “Losin’ Kind”, “Child Bride”, “Pink Cadillac”, “On the Prowl”, “Gun in Every Home” e “The Big Payback”. Esta última foi lado B do single “Open All Night”. Voltando ao álbum, a canção titulo conta a história de um serial killer chamado Charlie Starkweather.
“Atlantic City” narra como a cidade em que a jogatina impera destruí sonhos e vidas. “Mansion on the Hill”, pode ser considerada uma das suas primeiras composições. Baseada nas suas memorias de infância ao visitar um sitio com o pai. A perspectiva de uma criança dá o tom. Já “Johnny 99” é um rockabilly pulsante que conta a história de um homem que perde o emprego na fábrica. Fica bêbado, mata o balconista do bar e condenado a 99 anos de prisão.
“Highway Patrolman” é uma ode sobre dois irmãos que se amam, mas que o destino os separou emocionalmente. “State Trooper” tem um riff marcante e a letra que nos leva ao desespero de uma pessoa no seu limite físico e mental. A infância é revistada mais uma vez em “Used Cars”. “Open All Night”, é sobre uma viagem de carro em que Bruce dirige a noite inteira para encontrar uma garota. Trazendo na memoria seu primeiro carro, um Chevy’57 com chamas alaranjadas pintadas no seu capô. “My Father’s House”, mais uma memória da infância ao lado do pai.
Deixando bem claro de como eram distantes. Fechando o CD IV, temos a otimista “Reason to Believe”, uma viagem pela Highway 31, estrada da sua cidade natal New Jersey. O CD III é a versão ao vivo de “Nebraska” tocado na integra por Bruce no Count Basie Theater, Red Bank, NJ. O saldo final mostra como Springsteen não tem medo de ousar. Vindo de álbuns que trazem o melhor do rock e do country da terra do tio Sam. Indo a fundo no cancioneiro da América em busca de histórias desconhecidas do grande público. E como é de praxe, abrir seu coração literalmente. Exibindo seus medos e suas angustias, que não são muitos diferentes de você e deste que vos escreve. Nos faz sentir que estamos ao seu lado na viagem pelas estradas que conectam os EUA em seu Chevy’57.

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