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O documentário "GET BACK" com os Beatles, Gente como a Gente

A mitologia em torno dos quarto rapazes de Liverpool supera qualquer lenda urbana. Desde a morte de Paul McCartney num acidente de carro em 1966 e mais tarde surge seu substituto, um gênio idêntico, até mensagens subliminares como a capa de “Abbey Road (1969)”. Onde McCartney anda pela faixa de pedestre descalço. Na terra da Rainha, as pessoas são enterradas com os pés descalços. Junto a isso, ele está segurando um cigarro com a mão direita. Todos sabem que Paul é canhoto. John Lennon de branco representaria a figura de Deus, Ringo Starr é o padre e George Harrison, o coveiro. Este é um dos muitos mitos envolto na história dos Beatles.  E agora um dos maiores foi desmitificado com o lançamento da plataforma streaming Disney + em nossa terra brasilis.

Sua chegada em novembro de 2021 trouxe um dos documentários mais esperados nos últimos anos. “Get Back (2021)”, uma releitura de “Let It Be (1970)”, que seria o registro definitivo sobre o fim das atividades da maior banda de todos os tempos. Coube a Peter Jackson, responsável pela Trilogia do Anel, revisar mais de 50 horas de filmagens e 150 horas de gravações em áudio da banda. O registro oficial de Michael Lindsay-Hogg é revisto com uma riqueza de detalhes, que encanta a todos. Seja fã ou não dos Beatles. Somada a uma remasterização primorosa de som e imagem, que aproximam os Beatles do espectador. Não são necessários os famigerados óculos 3D, a tecnologia de hoje faz isso perfeitamente. Jackson a utilizou no documentário sobre a Primeira Guerra Mundial, "Eles Não Envelhecerão (They Shall Not Grow Old, 2018)",


Idealizado como uma especial para a TV britânica, o cotidiano deles dentro do Twickenham Film Studios era acompanhado de perto. Ensaiando velhas canções como “Every Little Thing” somadas as que fariam parte de “Let it Be” como a faixa título, “Two of Us” e “Get Back”, por exemplo. Junto a isso, a preparação para seu retorno aos palcos. Já que desde 1966, os Beatles não tocavam ao vivo. Sendo assim, Peter Jackson garimpou a fundo os arquivos deixados por Lindsay-Hogg para exibir um retrato mais humano de Paul, John, George & Ringo em três episódios com duração média de duas horas e meia. Viviam num círculo fechado, onde pouquíssimas pessoas tinham acesso. Entre eles o executivo da Apple Corps. Neil Aspinall, o jornalista Derek Taylor, o roadie Mal Evans e o produtor George Martin. Aqui vemos como a morte precoce de Brian Epstein em 1967, afetou os garotos de Liverpool. É perceptível que precisavam de alguém para cuidar dos negócios. Isso estava interferindo na dinâmica deles.


Criando uma espécie de animosidade. Em especial George, incomodado com os créditos das canções colocados nos álbuns. A dupla Lennon & McCartney predominava no tracklist, sobrando espaço para apenas uma canção de Harrison e outro para Ringo. Este trazia uma composição própria e às vezes cantava outra feita por Paul & John. Por exemplo, “With A Little Help From My Friends” e “Yellow Submarine”.  Bastante descontente com a situação, George acabava discutindo com Paul durante os ensaios. O clima gélido dos estúdios Twickenham e McCartney assumindo a frente do grupo também não contribuía para melhorar a relação entre os dois. Tanto que antes do final do primeiro capitulo (“Part I: Days 1 – 7”), George simplesmente larga sua guitarra de lado e diz que está deixando o grupo. E buscar seu espaço como artista solo. É aí que temos um dos melhores momentos de “Get Back”. Quando Paul e John vão ao café dentro do estúdio e discutir como trazer George de volta


Eles não sabiam que a equipe de Lindsay-Hogg instalou microfones escondidos em pontos estratégicos no local. Assim ouvimos os dois falando abertamente sobre o ocorrido e que a culpa do que está acontecendo é dos dois. Isso é mencionado pelo próprio Lennon. O destaque fica para a conversa rolando normalmente, sem acusações e tons de voz mais exaltados de ambos. Concordam que criaram uma metodologia sobre quais canções fariam parte dos discos e que a dinâmica da dupla acabou se tornando uma espécie de marca registrada dos Beatles e eles se deixaram se levar por isso. Não se importando com a opinião de George e Ringo. Com George, querendo mais espaço. Pois tinha muito material a ser aproveitado nos Beatles. Vide o álbum duplo “All Thing Must Pass (1970)” e sua faixa título chegou a ser ensaiada pela banda. 


Bem como “Another Day” e “Teddy Boy” de McCartney; “Gimme Some Truth” e “Child of Nature“ de Lennon. Esta é a demo que mais tarde se tornou a clássica “Jealous Guy”. Que surgiriam posteriormente em “McCartney (1970)” de Paul e “Imagine (1971)” de John respectivamente. Após várias reuniões na casa de George, que não foram filmadas. Peter adicionou legendas e imagens da sua morada. É a deixa para a segundo episodio, “Part II: Days 8 – 16”. Com o retorno de George e a ideia para um concerto ao vivo. Já que a logística se comprovou difícil para o evento acontecer do modo que foi concebido pelo Fab Four. Assim retomam as gravações de “Let it Be (1970)” nos estúdios da Apple. O clima entre eles muda da agua para o vinho. O sarcasmo e o bom humor, por exemplo.

Mais a vontade, eles estão no seu habitat. A sintonia musical vai voltando e é reestabelecida com a presença do tecladista Billy Preston. George Martin também comparece para auxiliar o engenheiro de som Glynn Johns. Dai surge “Get Back” e “Don’t Let Me Down”. Ensaiadas exaustivamente em Twickenham, bem como também “I Me Mine” de George e o duo de “I’ve Got A Feeling”. Preston e os Beatles se entendem musicalmente. John cogita integra-lo. Para logo em seguida, descartar a ideia. Com Paul dizendo: “Já é difícil o suficiente com quatro”. E finalmente temos o derradeiro episodio “Part III: Days 17 – 22”, com a antológica apresentação no terraço da Apple Corps., com a montagem improvisada do palco e os Beatles tocando “Get Back” e “Don’t Let Me Down”.

Ao mesmo tempo, John conhece o empresário norte-americano Allen Klein. Imaginando como um substituto à Epstein. Os Beatles correm contra o tempo para gravar o álbum, já que Ringo está compromissado com o filme “The Magic Christian (1969)”. Como saldo final, vemos os Beatles desnudados. Como pessoas comuns, as desavenças existiam. Não no nível que se imaginava. É perceptível que o convívio já apresentava um desgaste. Com cada um, desejando mostra sua própria sonoridade, isso não cabia dentro dos Beatles. Era necessário dar um fim, só que nenhum deles tinha coragem de fazê-lo. O amor e o respeito estão lá, não queriam magoar um ao outro. Desmitifica que a presença de Yoko foi determinante para a separação deles. Quando na verdade isso era iminente. Muito antes de se conhecerem, o relacionamento dos Fab  Four já estava por um fio.  


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