Um
sintoma dos novos tempos, o termo “faroeste” foi ganhando contornos mais
realistas. As belas planícies, o clima desértico de certas regiões e o jeito
caipira de ser das pessoas, sendo ricas ou pobres, estão lá. Mas com uma
pequena diferença. Trocam-se os belos cavalos por veículos automotivos no
melhor estilo Velozes & Furiosos. Ou a já conhecida “lata velha”.
Explicando, um carro usado e bem desgastado pelo tempo.
Um
bom exemplo, temos o oscarizado “Onde Os Fracos Não Tem Vez (2007)” dos irmãos
Cohen. Onde o xerife Ed Bell (Tommy Lee Jones) cansado da própria rotina. Que é
virada do avesso, quando tem que perseguir um assassino serial que está agindo
no seu condado. Enquanto isso investiga, uma chacina envolvendo traficantes de
drogas.
É
aonde chegamos “A Qualquer Custo (Hell
or High Water, 2016)”. Dirigido por David
MacKenzie e com roteiro escrito por Taylor
Sheridan, o mesmo do excepcional thriller “Sicario (2015)”. Aqui conhecemos
os irmãos Toby (Chris Pine, o Capitão
Kirk do novo Star Trek) e Tanner (Ben
Foster de “Warcraft: O Encontro de Dois Mundos, 2016”) Howard. Uma dupla de
assaltantes que estão roubando bancos no interior do estado do Texas (EUA). Chamando
atenção do Texas Ranger Marcus Hamilton (Jeff
Bridges, Oscar de Melhor Ator por “Coração Louco ,2009”). Ele está para se
aposentar e junto ao parceiro, um descendente indígena com traços mexicanos
Alberto Parker (Gil Birmingham, o
Billy Black da saga Crepúsculo) estão no encalço da dupla.
Como
os fora da lei de antigamente, os irmãos Howard precisam do dinheiro por
motivos pessoais. Toby está atrasado com a pensão alimentícia dos filhos e
precisa ressarcir a ex-mulher Debbie (Marin
Ireland), para não responder um processo jurídico. Já Tanner, depois de
cumprir dez anos em uma prisão, resolve ajudar o irmão na empreitada.
A
mãe recém-falecida deixou a fazenda que possuía para Toby. Que está cheia de
dividas e pode perdê-la inclusive. Juntos tentam sana-las com o dinheiro dos
assaltos. E indo a cassinos locais para aumenta-lo. Dai conhecemos a
personalidade de cada. Toby é uma pessoa articulada e ponderada. Já Tanner, tem
literalmente “sangue nos olhos” e não foge de uma briga. Isto é bem visto na
tensa sequencia de abertura de “A
Qualquer Custo”.
Com
a experiência adquirida pelo tempo de serviço, Marcus percebe que há um padrão
nos assaltos da dupla. Eles atacam a mesma agencia. No caso, o Texas Midland
Bank. Mais especificamente, suas filiais da região. Bem como, ele repara que os
rapazes são meticulosos. Não escolheram
seu alvo aleatoriamente. Pretendem atingir um valor especifico e deixar seu
recado para a instituição financeira.
Os
rapazes não pegam o dinheiro que está nos cofres. Somente notas pequenas nos
caixas. Para se livrar das evidencias que podem incrimina-los. Por exemplo, o
carro de fuga é literalmente enterrado. Aqui Mackenzie nos traz um conto sobre desilusão do sonho americano nos
anos 2010. Devido à queda da Bolsa em 2008 afetando principalmente as pessoas
de baixa renda nos EUA.
Interior
do Texas com sua aridez no tempo e das estradas exemplificam isso. Os outdoors
de casas de empréstimos pessoais anunciam a resolução de seus problemas
financeiros. Numa economia ainda em recuperação. Em especial, para os menos
privilegiados. É a falência do individuo, que só olha para o próprio umbigo. O preconceito
velado na relação de Marcus e Alberto. O veterano policial faz piadas de gosto
duvidoso sobre as origens do seu parceiro. Isso é muito bem exemplificado na
cena em que estão de tocaia num restaurante em frente a um possível alvo dos
irmãos. Com Alberto dizendo: “150 anos atrás, tudo era terra de meus ancestrais
até que seus as tomaram. Mas agora elas estão sendo tomadas de vocês, e é por
aqueles desgraçados ali”.
“A Qualquer Custo” traz varias referencias
do conhecido “American Way of Life”. E como ele foi se desconstruindo com o
passar dos anos. Onde poucos conseguiram manter seu padrão de vida e a grande
maioria sofre com a queda da Bolsa. Junto ao preconceito que é passado de
geração para geração. Sheridan
captou isso muito bem em seus personagens. Destacando Pine e Foster, eles
representam um reflexo desses novos tempos do cidadão norte-americano. E Bridges em uma atuação impecável como
um veterano cansado, mas que insiste em se manter na ativa. Por causa do medo,
que sente por se aposentar e não ter mais o que fazer.
Comentários
Postar um comentário